Vera Pessoa

Dias de verão! Lembro-me, tu eras muito mais bonito,
Mais suave, imponente, reluzente do que vistoso campo.
Cunhado em mim estás. Como esquecê-lo, se teu cheiro,
Teu olhar revelador, tua boca, tua bondade penetraram-me?

Longas estradas floridas juntos percorremos. Teu carinho
Firme, seguro, macio, constante, tu deixavas desabrochar.
A cada instante minhas pernas procuravas acariciar.
Ardia, não raro, o olhar do claro céu sobre mim; me roçando.

Brisa suave meus cabelos desalinhava. Campos amarelados,
D’ouros que ostentavam raras belezas, com intrigantes olhares.
Cantando pra ti, minha mão num continuo vai e vem tua nuca cobria.
Olhar pra frente, dizias docemente, carinho assim nunca recebestes.

Teu verão, sotaque da terra que me destes, em minh'alma permanece.
Nem que te despeças de toda pura beleza que te enobrece,
Nem sombras, horas e morte a vencerem tempos que desfalecem,
Num verso imortal acha-se presa minha sorte. Engrandece.

Voltando a sentir teu olhar, hálito do meu último homem que fostes.
Nego? Não nego, tu és! Nada, ninguém, nem os tempos te vencerão.

 

São Paulo, 10. XII. 2011
5h10m