Tela: Artista Celito Medeiros

 

 

Relato de uma experiência-ação na rede social
O poder da oração - Vera Pessoa e Poetas

Vera Pessoa

A alma sem oração 

A oração salvou-me a vida. Sem a oração teria ficado muito tempo sem fé. Ela salvou-me do desespero. Com o tempo, a minha fé aumentou e a necessidade de orar tornou-se mais irresistível. A minha paz muitas vezes causa inveja. Ela vem-me da oração. Eu sou um homem de oração. Como o corpo, se não for lavado fica sujo, assim a alma sem oração se torna impura.

Mahatma Gandhi

 

RESUMO

Este relato nasceu da idealização de sistematizar observações em relação ao Poder da Oração e ao comportamento humano nas áreas da linguagem artística. O material reflexivo utilizado são textos literários, a tradição filosófica do pensador cristão Jean Guittone os fundamentos do psicólogo Carl G. Jung.Este relato trata de uma pesquisa realizada com 31 poetas que fazem parte de redes sociais (15 homens e 16 mulheres). Para o estudo, foram levadas em consideração três categorias:Quantitativa Simples (QS),Conversa Direta com Deus (CDD),Conversa Indireta com Deus(CID). Este estudo revela que, na categoria QS, os homens, direta ou indiretamente, dirigiram-se a Deus mais significativamente do que as mulheres, visto que, do total de textos recebidos (91), 60,44% (55) foram escritos pelo sexo masculino e 39,56% (36), pelo sexo feminino. Já, na categoria CDD, o sexo feminino dirigiu sua conversa diretamente a Deus mais do que os homens - 18,68% do total de textos (17) foram escritos pelos homens, 20,87% (19) escritos pelas mulheres. Em se tratando da CID, foi observado que o sexo masculino conversa indiretamente com Deus significativamente mais do que as mulheres: 41,75% do total de textos (38) foram escritos pelo sexo masculino e 18,65% (17 textos), pelas mulheres. O estudo aponta que, devido a uma cultura patriarcal, o homem foi impedido de exercer as características que constituem a sensibilidade. Assim, há a necessidade de um resgate do princípio feminino junto ao masculino que propicia uma nova inteireza à humanidade, transcendendo as distorções na relação homem-mulher, favorecendo a libertação humana, da natureza e da culturaque ultrapasse o sexo biológico de pertença. O artista - no caso aqui, o poeta -, deve ser percebido pelo social como um profeta. Profeta/poeta e psicólogo não estão necessariamente em atrito entre si, ambos podem ajudar a pessoa humana nas suas diferentes dimensões por meio de métodos e estratégias distintas.

 

Palavras-Chave: Textos literários. O Poder da Oração. Conversa Direta com Deus. Conversa Indireta com Deus.Feminino. Masculino.

 

ABSTRACT

This report was born from the idealization to systematize observations regarding the Power of Prayer and the human behavior in the areas of the artistic language. The reflective material used are literary texts, the philosophical tradition of the Christian thinker Jean Guitton and the principals of the psychologist Carl G. Jung. This report is about a survey conducted with 31 poets who take part in social networks (15 men and 16 women). For this study, three categories were taken into consideration: Simple Quantitative (SQ), Direct Conversation with God (DCG), and Indirect Conversation with God (ICG). This study reveals that, in the category SQ, men, directly or indirectly, addressed to God significantly more than women, as the total number of texts received (91), 60.44% (55) were written by men and 39.56% (36) by women. Relating to the category DCG, females directed their talk directly to God more than males - 18.68% of the texts (17) were written by men, 20.87% (19) by women. Regarding the ICG, it was observed that men talk indirectly to God significantly more than women: 41.75% of the total of texts (38) were written by males and 18.65% (17 texts) by women. This study indicates that, due to a patriarchal culture, men were unable to carry the features that constitute sensitivity. Thus, there is need for a recovery of the feminine principle together with the male that provides a new wholeness of humanity, transcending distortions in the man-woman relationship, favoring human liberation, nature and culture that go beyond the biological gender of belonging. The artist, in the case here, the poet, must be perceived by the social as a prophet. Prophet /poet and psychologist are not necessarily at odds with each other, both can help the human person in their different dimensions through different methods and strategies.

Keywords: Literary Texts. The Power of Prayer. Direct Conversation with God. Indirect Conversation with God.Female. Male.

 

INTRODUÇÃO

 

Este relato nasceu da idealização de sistematizarmos o que temos observado desde 1998, como pessoas que buscam a Deus, pesquisam o tema O Poder da Oração e observam o comportamento humano nas áreas da linguagem artística desde 1970. O material reflexivo utilizado são textos literários e, mais ainda, o encontro que tivemos há anos com aquele que a tradição filosófica considera o último grande pensador cristão, Jean Guitton, e com o psicólogo Carl G. Jung.

Encontramos uma espécie de “filosofia em voz alta”, como era praticada outrora, em outras culturas, entre os gregos ou na Idade Média, com questões que parecem simples e essenciais: Existe Deus? O que é o real? Por que existe alguma coisa ao invés de nada? Quem é o homem e quais as suas capacidades? Por mais que procuremos, apenas três caminhos abrem-sea tais indagações e a eventuais respostas que suscitam: o da religião, o da filosofia e o da ciência. Contudo, em um mundo capitalista, ocupado pelas tecnologias e pelos modelos de pensamentos que ele produz, o discurso filosófico tem sido ameaçado, parecendo-nos que o genuíno filósofo, com raras exceções, perdeu seu privilégio de pensar em voz alta. Restou-nos a religião, e esta, por sua vez, tem sido usada como instrumento de consumismo, fazendo uso abusivamente de uma crença e de uma ciência materialista. Tais fenômenos, provavelmente, são oriundos da ciência que se opõe à ordem profunda das certezas inscritas no sagrado, colocando, dessa forma, Deus e ciência como pertencentes a mundos diferentes um do outro, pondo em risco o estudioso que tenta aproximá-los.

No entanto, observamos sinais no universo que nos dizem que mais do que chegou o momento de abrirmos as vias do saber emocional, espiritual, da alma e do cognitivo, da vontade e do dever às construções com todos e para todos.Momento de buscarmos, para além das aparências mecanicistas e das manobras destrutivas, o traço quase metafísico da evidência de alguma coisa diferente,ao mesmo tempo próxima ao homem e sobre ele, estranha, poderosa e misteriosa. Contudo, passível de perceber e sentir esta maravilhosa presença e misteriosa força, Deus. Momento de fazer uso,também,da linguagem artística como instrumento que Ele sempre deu ao ser humano, indistintamente.

Não há, obrigatoriamente, necessidade de conhecimento acadêmico às pessoas que sentem imprescindibilidade de se expressarem e buscarem formas de comunicação com o invisível,o visível e consigo mesmas.Essa comunicação é passível de ser expressa por todas as pessoas, independentemente das variáveis de sexo, de escolaridade e de idade, desde que o ser saia de si mesmo e que o meio sociocultural lhe seja um instrumento facilitador: não rotulador, nem castrador. Afinal de contas, não encontramos na teoria científica a mesma coisa que na crença religiosa?O próprio Deus não está perceptível, quase visível no fundo extremo do real descrito pelo físico? Esse espaço do saber, no seio do qual se organiza pouco a pouco um pensamento revolucionário, não está além da lógica clássica?

 

I – A ORAÇÃO

No texto Em Contato com o Trono, T. Austin-Sparks tece considerações tais como: cada vez que contemplamos o grande ministério da oração, pensamos que seria de muita ajuda se de início lembrássemos a base Divina de toda oração aceitável. Antes precisamos reconhecer o seu fundamento espiritual, tendo a ver com o que lemos em Êxodo 30:34-38: a presença das especiarias  e da sacralidade do incenso que queimavam sobre o altar. Deus estipulou certos perfumes para o aroma da composição, fazendo, então, uma declaração muito séria em relação a elas: “Quando fizerem incenso para vocês mesmos, não usem a fórmula do incenso sagrado. Esse incenso é uma coisa sagrada, dedicada a mim. Se alguém fizer incenso igual a esse para usá-lo como perfume, deverá ser expulso do meio do meu povo” (Êxodo 30:37 e 38). O incenso não era a oração, mas era considerado o mérito e a dignidade de Deus colocado nela, misturado a ela, fazendo com que a oraçãotornasse-se eficaz e aceitável na presença de Deus. Observamos, então, que os ingredientes eram três: a perfeição da graça, as virtudes e as excelências morais de Jesus Cristo.Assim, a base de toda oração aceitável sobre a qual nos aproximamos do Pai é aquela das excelências, da glória, da graça, da virtude, do mérito e da dignidade do Senhor Jesus. Isso é muito simples, básico, mas precisamos reconhecer essas qualidades, antes de chegarmos a qualquer lugar em termos de oração.

v  Os cinco aspectos da oração

Em primeiro lugar, ressaltaremos a natureza da oração, ou o que a constitui a partir de seus principais e diferentes pontos de vista: comunhão, submissão, petição, cooperação e conflito. A oração é cada um deles, mas a oração envolve todos eles.  

·         Oração como comunhão

A oração, primeiramente, é comunhão, é companheirismo, é amor abrindo o coração a Deus, e esse é o fundamento de todas as formas verdadeiras de oração. Podemos associá-la a duas atividades principais do nosso corpo humano. Quando falamos do corpo físico, falamos de algo que é orgânico, do que é funcional. A oração como comunhão toma o lugar do que é orgânico em nosso corpo. Uma parte de nossa constituição orgânica é a respiração. Nós nunca paramos para pensar em dar outra respirada.

Ora, podemos sempre pensar se iremos caminhar, ou refletir, ou falar. Esses comportamentos são a dimensão funcional. São controlados e deliberados, diferentemente da respiração. A oração, como comunhão, é na vida espiritual o mesmo que a respiração é na vida física. A comunhão com Deus é algo sustentado como a respiração que se prossegue. Ela difere das atividades funcionais, como a alimentação. A respiração é involuntária, é algo não deliberado. Podemos vê-la como um hábito, pois esse é algo que facilmente foge à consciência de uma pessoa que está viciada nele. Nós fazemos coisas habitualmente sem estarmos conscientes no momento em que a fazemos. Quando um hábito está plenamente formado, ele simplesmente passa a fazer parte do nosso viver, e a comunhão com Deus é isto – algo que se prossegue. Oração como comunhão é simplesmente isto: nós estamos em contato com o Senhor e, de forma espontânea e involuntária, abrimos o nosso coração para Ele.

O teólogo Meyer, por meio de seus relatos, mostra-nos que ele não se importava onde estivesse, ou quais eram as circunstâncias. Ele parava com o que estava fazendo de repente e apenas dizia: “Pare um minuto!”, e orava. Esse era o seu hábito de vida. Meyer parecia estar a todo o momento em contato com Deus. 

·         Oração como submissão

Em segundo lugar, a oração é submissão. Aqui precisamos estar conscientes da possibilidade de uma contradição em termos de oração-submissão. A inércia passiva, chamada de confiança, não é oração. Temos ouvido pessoas falarem sobre confiança, que para elas significa passividade, porém isso não é oração. Submissão é sempre um comportamento ativo. A submissão sempre envolve a vontade.

Muitos de nós pensamos que apenas se apoiar confiantemente no Senhor é submissão, e suas palavras ao Senhor assumem as características de submissão; porém isso não é oração. Aquiescência cega às coisas não é submissão. Submissão significa alinhar-se ao propósito Divino. Este “comportar-se” pode significar conflito, e invariavelmente poderá significar ação, trazendo a vontade. A oração, seja qual for o ponto de vista a que nos referimos, é sempre positiva. A fé entra na dimensão da oração, e a fé é sempre um comportamento ativo. A fé pode exigir uma batalha para se chegar a um lugar de descanso, porém o “descanso da fé” não é a aquiescência cega. O “descanso da fé” significa que o nosso último passo ao estágio de ajuste ao propósito Divino foi alcançado.

Assim, submissão não é a supressão de um desejo, mas é trazer o desejo alinhado à vontade de Deus, e mudar o desejo se necessário for. O nosso querer pode ser algo muito forte, uma poderosa força propulsora, porém precisa estar sob controle a fim de que possa ser ajustado na direção da força maior, Deus.  Ora, submissão não é apenas se prostrar diante de Deus e dizer: “Bem, eu creio que tudo irá sair bem. Eu apenas concordo com as coisas do jeito que estão e as deixo com o Senhor”. Submissão é estar feliz e alinhado à vontade de Deus, sem vivenciarmos o conflito.

 

·         Oração como petição

Em terceiro, encontramos a natureza petição, ou solicitação, ou pedido. Tocamos no que é, talvez, o maior aspecto na atividade da oração. Sem dúvida, essa modalidade de oração tem um espaço amplo na Escritura e define o significado da palavra oração. Do ponto de vista das escrituras, a oração é corretamente tomada como significando petição. Ao percorrermos a Palavra iremos descobrir que a oração representa a petição em uma quantidade esmagadora.

Temos certeza de que não precisamos de argumentos, ao longo dessas linhas, para mostrarmos que estamos na direção correta de nosso raciocínio e para alertarmos ao fato de que nossos maiores problemas surgem na direção do campo das nossas petições. Com toda certeza iremos continuar orando, naturalmente, e iremos continuar pedindo.Não temos dúvida de que todos nós, em algum momento, alcançamos muito pouco com as nossas orações de petições, devido, provavelmente, ao pouco de racional e ao muito de emocional que entra a enfraquecer as nossas orações. O que estamos a falar é sobre a eficácia objetiva da oração, isto é, oração que tem poder para mudar as coisas objetivamente, e não meramente ter uma influência “apenas” sobre o nosso interior.

Ressaltamos que há dois aspectos importantes que devemos ter em mente na oração peticional. A primeira é a necessidade da presença de dois outros aspectos: comunhão e submissão. Por oração peticional entendemos a necessidade básica da comunhão com o Senhor, de modo que ela não se reduza meramente a pedir coisas, mas que seja fruto de um companheirismo sincero com Ele.

 

·         Oração como cooperação

O quarto aspecto que encontramos é a cooperação. Para nós é esse o principal objetivo da oração, ficando como um guarda-chuva por trás de tudo eposicionando-nos corretamente quanto à oração em todos os seus aspectos. Comunhão, submissão, petição e conflito são todos ajustados quando reconhecemos que orar é cooperação. Cooperação deve ser o motivo, a verdade, a vida, a liberdade, o poder e a glória da oração. Para obtermos vida na oração, precisamos reconhecer que ela é uma cooperação com Deus, por mais estranho que essa nossa afirmação nos pareça. Se não estamos em cooperação com Deus, podemos estar certos de que não temos vida na oração. Se estivermos de fato cooperando com Deus, teremos vida na oração. A liberdade na oração vem ao longo da linha da cooperação com Deus, e a liberdade não ocorrerá até que tenhamos esse ajuste. De certa forma, o Poder da Oração está relacionado à cooperação com Deus. Cooperação com Deus é obtermos o poder na oração. Lembremo-nos do profeta Elias e de outros profetas que viviam em cooperação com Deus e dos resultados eficazes de suas orações.A cooperação elimina o egoísmo e tudo o que nos é meramente particular. Esse modo de se comportar é um dos principais valores da oração, pois significa que ela está a nos puxar ao propósito Divino e ao tempo Divino.

Todo esse nosso caminhar é importante, não apenas conhecer o plano de Deus, mas conhecermos o Seu método para cumprirmos o Seu plano. Podemos estar sobre um sentimento certo, no modo correto, no tempo correto, contudo não estamos ajudando a Deus, porque estamos em uma disposição errada, não na disposição (espírito) do Senhor. Oração em cooperação com Deus é para fazer um ajuste em todas essas questões.

Ao darmos um fechamento a essa parte, lembremo-nos de que temos três fatores que são essenciais à oração. Em primeiro lugar, desejo; em segundo, fé; e, em terceiro, vontade. Talvez, precisemos lembrar a nós mesmos de que, muito frequentemente, Deus nos chama a um exercício inicial de nossa parte, antes que Ele se coloque ao nosso lado. Jesus, muito frequentemente, requer de nós uma iniciativa na questão do desejo, da fé e da volição. “É como a gota de água que tem que ser colocada na velha bomba para produzir o fluxo de água, e você não recebe o fluxo até que dê algo à bomba. E o Senhor apenas pede isto de nossa parte o que pode ser, em comparação, muito pouco, mas que possibilita a Ele aparecer em Sua plenitude”.

Lembremo-nos de que é muito frequente a oração no seu início representar exercício de vontade e de fé da nossa parte. Pode ser que o Senhor não nos responda, até que Ele observe o desejo colocado à ação deliberada de fé para se chegar a Ele. Muito frequentemente, há uma grande quantidade de desencorajamento envolvido no início da oração; e o perigo é que podemos desistir muito cedo por parecer que não estamos chegando a lugar algum. “O Senhor está apenas pedindo aquela gota de água a fim de começar a fluir!”

II - OBRA POÉTICA

Em O espírito na arte e na ciência, C.G.Jung afirma que falar sobre a relação entre a psicologia analítica e a obra de arte poética era, para ele, uma oportunidade bem vinda, pois, assim, ele tinha a oportunidade de expor seus pontos de vista na controvertida questão da relação entre a psicologia analítica e a arte. Essa relação, continua Jung, baseia-se no fato de a arte, em sua manifestação, ser uma atividade psicológica e, como tal, pode e deve ser submetida a considerações de cunho psicológico; pois, sob esse aspecto, ela, como toda atividade humana oriunda de causas psicológicas, é objeto da psicologia. Por outro lado, diante dessa afirmação, Jung encontrou uma limitação bem definida quanto à aplicação do ponto de vista psicológico: “Apenas aquele aspecto da arte que existe no processo de criação artística pode ser objeto da psicologia, não aquele que constitui o próprio ser da arte.Nesta segunda parte, ou seja, a pergunta sobre o que é a arte em si, não pode ser objeto de considerações psicológicas, mas apenas estético-artístico”. Por sua própria natureza, a arte não é ciência e ciência não é arte. Por isso, esses dois campos possuem áreas reservadas que lhe são peculiares e só podem ser explicadas por elas mesmas.

Essas considerações de Jung parecem-nos bem oportunas, pois, nesses últimos tempos, lastimavelmente até no meio acadêmico das artes e na área psicológica, vimos, várias vezes, as obras de arte serem interpretadas de um modo que correspondia justamente a essas reduções mais elementares. Fácil nos seria, talvez, atribuir as condições da criação artística às relações pessoais do poeta - no caso desse nosso trabalho: Experiência-Ação: O Poder da Oração - Vera Pessoa e Poetas -, com seus pais, com o seu entorno social etc. Mas isso não contribuiria em nada para a compreensão de sua arte. A obra de arte sendo interpretada dessa maneira, como uma neurose, por exemplo, das duas uma: ou a neurose é uma arte, ou a arte é uma neurose. Jamais poderemos colocar esse fenômeno no mesmo nível. Somente profissional preconceituoso, ou outra coisa qualquer, da área da saúde mental poderia ver nas artes uma neurose e vice-versa.

Não negamos que certas manifestações psíquicas estão presentes em quase todas as atividades humanas, e que, na verdade, são sempre as mesmas -quer se trate de um cientista, um artista (poeta), ou outro ser humano, pois todos tiveram pai, mãe, amigos e vivem inseridos ao social. Todos possuem sexualidade, e, por isso, também carregam certas dificuldades típicas e outras comuns ao ser humano.Assim, nada de específico e de positivo pode se apurar para a avaliação de uma obra de arte. Na melhor das hipóteses ampliamos, complicamos e aprofundamos o conhecimento dos pressupostos históricos humanos.

Confessamos, por experiência própria, que não é fácil para o profissional da área da saúde esquecer o seu olhar clínico perante uma obra de arte e se abstrair da questão da causalidade psicológica. É verdadeiro, também, o outro lado da moeda. Aprendemos que uma psicologia puramente causal nada mais pode do que reduzir cada pessoa humana a um membro da espécie do homo sapiens, porque, para ela, só existe produto e produção.Uma obra de arte, um poema e uma crônica, por exemplo, não são apenas produtos ou derivações de uma matéria, são muito mais do que essa simplificação. É a reorganização criativa daquelas condições que a psicologia causalística queria derivá-las. É a expressão inteira que brota com uma força quase incontrolável do profundo da alma de um ser sensível chamado “poeta”!

III - O ESTUDO

Este estudo preliminar – O Poder da Oração – Vera Pessoa e Poetas -, teve por objetivo observar quantitativamente a sede que, atualmente, as pessoas vivem de falar conscientemente ou não com Deus, em um grupo de poetas pertencentes à rede social.  Para esse ciclo, formalizamos a coleta de textos que abordassem conversas diretas e indiretas com Deus, para ambos os sexos, masculino e feminino, não importando a idade dos partícipes e nem o nível sociocultural. Tentamos controlar apenas as variáveis intervenientes: quem se dirigia diretamente ou não a Deus e conteúdos eróticos, em uma linguagem direta ou não. No que tange à categoria “quem se dirigia a Deus”, pretendíamos gerir se era a pessoa que colocava seu nome ao texto quem se dirigia diretamente ou não a Deus. Foi determinado, aleatoriamente, o início, 19 de março de 2014, e o término do estudo, 20 de abril de 2014.

Nesse primeiro momento, ao propormos a Experiência-Ação, O Poder da Oração – Vera Pessoa e Poetas, tentamos dar início à sistematização desse trabalho para o estudo do fenômeno universal: diálogo entre homem e Deus, consequentemente reforçando a fé e o comportamento de afeto a si mesmo, ao outro, ao animal e ao universo, em virtude dos deslocamentos que a filosofia e a religião experimentam sob o formidável impulso da ciência. 

v  Sujeitos participantes e categorias

Participaram desse estudo 31 poetas. Destes, 15 do sexo masculino e 16 do sexo feminino. Os textos, as poesias e as crônicas foram coletados a partir do dia 19 de março de 2014 até o dia 20 de abril de 2014 e de duas formas: os partícipes encaminhavam diretamente à mentora do projeto e/ou a uma poetisa pertencente à rede social.Durante a coleta dos textos dos poetas,definimos as categorias:

Uma primeira dimensão, a mais imediata, foi a Quantitativa Simples (QS) dos textos enviados no total dos partícipes do estudo. Outra dimensão foia diversidade da Conversa Direta com Deus (CDD) que o poeta teve; ou seja, além de perguntarmos quantas vezes o poeta conversa diretamente com Deus, em um período de tempo, perguntamos quantas conversas diferentes ele tem com Deus por meio de diferentes modalidades de oração. Uma terceira dimensão é a que chamamos de Conversa Indireta com Deus(CID) que os poetas tiveram quantitativamente com Ele em um período de tempo. Perguntamos quantas Conversas Indiretas com Deus os poetas apresentaram,tendo conteúdos diferentes entre si nos textos - ora estando em uma das categorias, de súplica, por exemplo, ora em outra categoria. Sendo o amor a uma pessoa, a si próprio, ou ao animal, ou à natureza, à igreja, à família, à nação,aum presente recebido, etc., o fio de ouro do diálogo indireto com Deus.

Finalmente, falamos da funcionalidade dos textos poéticos. Essa especificação justifica-se tendo em vista a natureza da situação da coleta dos textos. Por outro lado, é necessária para tornar clara qual a noção de funcionalidade.Neste momento, para o desenvolvimento deste relato, trabalhamos com as seguintes categorias: Quantidade Simples de textos coletados; Conversa Direta com Deus (CDD);Conversa Indireta com Deus (CID).

v  O que nos dizem os textos coletados

Foram coletados noventa e um (91) textos. Na categoria Quantidade Simples (QS), temos 91 textos - sendo 55 escritos pelo sexo masculino, perfazendo uma porcentagem de 60,44% do total de textos recebidos; e 36 textos escritos pelo sexo feminino, alcançando uma porcentagem de 39,56%. Observamos, por essa categoria, que os homens, direta ou indiretamente, dirigiram-se a Deus mais significativamente do que as mulheres.

Em relação à categoria qualitativa Conversa Direta com Deus (CDD), em que o poeta dirige seu afeto diretamente a Deus,foram considerados pertencentes a essa categoria o conteúdo de petição, de agradecimento, de amor, de súplica, de protesto, de louvor, de entrega e de intercessão ao Senhor Jesus. Encontramos, aqui, 36 textos assim distribuídos: 17 escritos pelos homens, alcançando uma porcentagem de 18,68% do total de textos; e 19 escritos pelas mulheres, perfazendo a porcentagem de 20,87%. Ao analisarmos essa categoria qualitativa, observamos, pelos textos poéticos, que o sexo feminino dirigiu sua conversa diretamente a Deus mais do que os homens.

Em se tratando da categoria qualitativa Conversa Indireta com Deus (CID), em que o artista dirige seu afeto indiretamente a Deus, foram considerados pertencentes a essa categoria o conteúdo de afeto dirigido à pessoa, à natureza, ao animal, à nação, ao universo. Considerou-se como afeto a seguinte definição:

A afetividade compreende o estado de ânimo ou humor, os sentimentos, as emoções e as paixões e reflete sempre a capacidade de experimentar o mundo subjetivamente. A afetividade é quem determina a atitude geral da pessoa diante de qualquer experiência vivencial, promove os impulsos motivadores e inibidores, percebe os fatos de maneira agradável ou sofrível, confere uma disposição indiferente ou entusiasmada e determina sentimentos que oscilam entre dois pólos e transitam por infinitos tons entre estes dois polos: a depressão e a euforia. Desta forma, a afetividade é quem confere o modo de relação do indivíduo à vida e será por meio da tonalidade desse estado de ânimo que a pessoa perceberá o mundo e a realidade. Direta ou indiretamente, a afetividade exerce profunda influência sobre o pensamento e sobre toda a conduta do indivíduo. (Geraldo José Ballone).

Dos 91 textos coletados, 55 encontram-se nessa categoria e assim distribuídos: 38 textos escritos pelo sexo masculino, dando-nos uma porcentagem de 41,75% do total de textos; e 17 escritos pelas mulheres, levando-nos a obter uma porcentagem de 18,65%. Nessa categoria, podemos observar que o sexo masculino conversa indiretamente com Deus, por meio dos seus textos poéticos, significativamente mais do que as mulheres.

 

IV – EXPRESSÃO ARTÍSTICA E O FEMININO: APROXIMAÇÕES

 

Na nossa vida cotidiana, pensamos sobre o que queremos dizer, pesquisamos internamente sobre o que queremos dizer, escolhemos a melhor maneira dedizere tentamos dar à nossa narrativa a melhor coerência lógica possível. Contudo, a linguagem artística tem uma textura diferente.

No maravilhoso mundo das artes, acumulam-se imagens, que ora se sobrepõem, ora interagem e se imbicam intercambiavelmenteem uma ordem aleatória. Algumas vezes, esse movimento contém todas as imagens; em outras, algumas delas em uma sucessão incrível de segredos e realidades que, às vezes, parecem-noscontraditórias, pouco belas e que se perdem no tempo. Assim, observamos que a matéria prima mais banal, nas mãos do artista, reveste-se de aspectos fenomenais. O poeta, por exemplo, sai de si e de seu entorno, em uma viagem heroica, não importando a forma que tomará a sua obra: nem o tempo e espaço que ela poderá vir a ocupar.

É nesse momento das três categorias comportamentais que definimos no nosso estudo piloto - O Poder da Oração - Vera Pessoa e Poetas -, que destacamos a categoria Conversa Indireta com Deus (CID), a fim de tecermos algumas considerações. Os poetas do sexo masculino, por meio dos seus textos, mostraram mais significativamente,segundo nossa definição, conversar indiretamente com Deus, comparativamente às poetisas (60,44% homens; 39,56% mulheres).Um dos pensamentos de Jungmostra-nos que a “[...]‘alma’, que advêm à consciência egóica durante a opus, tem um caráter feminino no homem, a anima quer reconciliar e unir, enquanto na mulher o animus tenta discernir e discriminar” (C.G.Jung. Lexicon. A primer ofTerms&Concepts,1991).

Ora, interessa-nos, no momento, perscrutar a “alma” feminina, o “anima”, elemento feminino presente na psiquemasculina,o que também é, para Jung, a personificação de todas as tendências psicológicas femininas do homem: humores e sentimentos instáveis, as intuições proféticas, a receptividade ao irracional, a sensibilidade à natureza e a capacidade de amar.Girando o tempo,notamos que, em cada época e em cada cultura, é valorizado mais ou menos um tipo de “alma” feminina, de acordo com as relações de produção, estando, no entanto, mais ou menos os quatro estágios da “alma”femininapresentes na visão do sexo masculino, mencionadas a seguir.

Tentando criar uma aproximação e um paralelo entre o ato de sonhar enquanto se dorme - encontrado em toda pessoa –e o estado sentimental em que o poeta (tanto o sexo masculino quanto o feminino) escreve seu texto, gratuitamente observamos que, muitas vezes, a anima,ao aparecer nos sonhos, vem ora como feiticeira (anima má) ou sacerdotisa (anima boa) - mulheres que levam o homem à ruína etc. Assim, a anima teria quatro estágios de individuação extraídos da literatura, dos mitos e dos livros sagrados: Eva (a mulher erótica), Helena de Fausto (mulher romântica), Virgem Maria (mulher espiritual) e Sulamita (a sabedoria nos cânticos de Salomão). Ressaltamos, então, que cada homem tem na sua anima a ideia que ele faz do seu protótipo de mulher.

Assim, ao fazermos leituras sobre os pensamentos de Campbell, percebemos que o homem possui a alma feminina, a anima, e que deseja reconciliar e unir padrões existenciais ou não. Ao ser convocado a fazer uma viagem heroica por essa vida vivida, em aceitando  ao "convite", o herói passa pelos preconceitos, retorna ao grupo para contar sua experiência, devendo dissolver nós e unir os laços encontrados, reconciliando e instruindo seus pares.Para que essas fases ocorram, o sexo masculino precisa ter consciência de sua natural sensibilidade, aceitá-la e permitir a sua liberação para perceber ao chamado, para aceitá-lo e dividir com o seu grupo o que aprendeu.Ora, o sexo masculino, tendo a alma feminina, em parte, possuindo o carácter de reconciliação e sendo sensível, o social, tanto patriarcal quanto o matriarcal, procura cerceá-lo dessa sua brilhante natureza, levando-o a se inibir genericamente de suas manifestações artísticas, as poéticas, por exemplo - rotulando-o/discriminando-o, mas ao mesmo tempo explorando-o sem um favorável retorno; descaracterizando-o e expulsando-o do seu grupo cultural.  Logo, e provavelmente, o homem perderá o mistério que é tão peculiar à alma feminina, tornando-se direto nas suas abordagens afetivassocioculturais,  bem como tenderá,comparativamente ao sexo feminino, como forma de compensação, demonstrar uma elevada porcentagem de  uma conversa indireta com Deus (CID).

A sensibilidadeé uma função estruturante. Sua caracterização é difícil, pois, afinal, toda a matéria viva é sensível. Ao invés de buscar defini-la por sua presença na personalidade do homem, podemos começar pelo seu cerceamento, por sua ausência e pelo que ela foi impedida de ser.Podemos dizer que durante um período de aproximadamente dez milênios, em que se formou e se desenvolveu a civilização, a sensibilidade do homem foi intensamente reprimida. Ela foi reprimida em função do papel atribuído ao homem na família e na organização social de dominância patriarcal. Sendo o papel do homem e o da mulher codificado em função das atividades do lar e da sociedade, e sendo as funções do lar atribuídas à mulher, o homem permaneceu com o poder social, a competição profissional para prover a família, o exército e a guerra.

Quando definimos e criticamos o machismo, o despotismo, a rudeza, a promiscuidade e o cafajestismo do homem patriarcal, referimo-nos, geralmente, ao que ele tem e exerce de forma poderosa e distorcida, e, quase nunca, o social percebe o que ele não tem e que sofre por não ter e, pior, o que ele não tem e nem pode sentir que não tem, porque se o fizer estará depondo contra o seu papel de homem. É surpreendenteque essas características que o homem em uma sociedade ainda patriarcal - em parte -, tem, mas que está a impedi-lo de ter e de exercê-las, constituem a sua sensibilidade. Esta é tão proibida que a insensibilidade passou a fazer parte do papel do homem, por mais educado e refinado que ele seja. No fundo, ele é empurrado/compelido a ser insensível e bem direto em muitos aspectos de sua vida afetiva, profissional e na maneira de vir a serno mundo.

Ser poeta e conversar com Deus,ainda nos dias atuais, pode nos remeter ao sofrimento que o homem tem passado por conta desse bestial preconceito que o social exerce sobre ele. O homem na cultura patriarcal, ou no sistema matriarcal, ou no misto, está impedido de ter e de exercer as características que constituem a sua sensibilidade. Isso, provavelmente, nos faz encontrar nesse nosso estudo – ainda que incipiente - a temeridade presente nesse esfoliado homem, ao se dirigir diretamente ao Deus Eterno, comparativamente ao sexo feminino!  

V - Da comunidade à sociedade

 

Não conto gozar a vida, nem gozá-la penso.
Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha

de ser o meu corpo e a minha alma a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade,

ainda que para isso tenha de a perder como minha.

Fernando Pessoa 

Para haver pessoas maduras, descentradas de si mesmas e interagindo com a comunidade e a sociedade, a grande tarefa é ajudar os indivíduos a dar o passo dopessoal ao comunitário. A relação “eu-tu” precisa desembocar em um “nós”, seja noeclesial, seja no social, acima de particularismos estreitos e estéreis. É uma tarefa que implica abertura para a colaboração, para o trabalho em equipe e a organização social, em todas as esferas da vida. Só verdadeiras comunidades podem contribuir na construção de uma sociedade solidária. Para isso, urge a oferta de oportunidade de encontro, de prática solidária e de experiências de amizade, bem como de espaços de educação ao relacionamento solidário e fraterno.

Contudo, de nada adiantam comunidades, sejam elas virtuais ou não, que são dirigidas pelo autoritarismo, que marginalizam aqueles quenão andam segundo suas cartilhas. O intimismo reduz o religar da pessoa à dimensão com o invisível e ao outro, perdendo toda a riqueza do encontro comunitário saudável entre os partícipes.O racionalismo frio, bem como o intimismo, seu antagonista, substituem a autêntica vivência comunitária por um mercado “cultural” - nos quais o pessoal é tão somente substituído pelo grupo descaracterizado.

Para a realização da vocação humana, não basta que as pessoas tenham umespaço conveniente de “autonomia” e sejam acolhidas ou estejam integradas em umacomunidade. Só um tecido de comunidades múltiplas garante o espaço, sejade afirmação de direitos, seja de contribuição em prol da humanidade, para que estaviva como uma grande família livre. A pessoa atomizada ou massificada não pode exprimir-se em toda a riqueza de seu ser, individual ou socialmente, bem como colocar o Estado a serviço da nação, comunidade a que está integrada, seja ela a família ou a comunidade ambiental, religiosa etc. É no espaço da sociedade, da cidadania, que se podem assegurar direitos, sejam promotores do bem comum e do destino universal dos bens em suas diversas dimensões.

A realização humana, que implica um lugar social no qual cada pessoa possaexpressar todas as suas potencialidades, advoga para a convivência de cidadão livre, em uma sociedade livre, justa e solidária - uma pessoa que pode ir e vir em suas relações de trabalho e de amizade.Como nos disse o Concílio Vaticano II, o povo de Deus peregrina no seio de uma humanidade toda ela peregrina, e o destino desse povo não é diferente do destino de toda a humanidade. Afirmamos que um grupo, na qualidade de comunidade, só cumpre sua missão na medida em que seus membros se fizerem missionários, saírem de si e exercerem um serviço na sociedadeque não é uma realidade intimista.

Ao nos debruçarmos sobre o princípio feminino, e a evolução histórica da relação homem/mulher, comparando-a com o projeto original de Deus, identificaremos as características do feminino que favorecem a compreensão empática e encarnada da revelação cristã.Como temos dado ênfase ao longo desse relato, uma grande contribuição do psicólogo Carl Gustav Jung foi mostrar que tanto o homem quanto a mulher possuem um princípio masculino e um feminino. Ao dar uma olhada nos escritos de Leonardo Boff,veremos que ele pondera: A grande tarefa civilizacional, talvez a mais urgente nos dias atuais, consiste no resgate do princípio feminino. Chamamos atenção aqui para o fato de que não falamos de categoria feminino/masculino, mas de princípio feminino/masculino.

Ora, temos afirmado que o masculino não diz respeito somente ao homem, mas também à mulher. O feminino não ganha corpo apenas na mulher, mas também no homem. Esse feminino representa o princípio de vida e profético, de criatividade, de receptividade, de enternecimento, de interioridade e de espiritualidade no homem e na mulher. Portanto, trata-se de um princípio inclusivo e seminal que entra na constituição de uma verdadeira realidade humana.O resgate do princípio feminino junto ao masculino propicia uma nova inteireza à humanidade, ao transcender as distorções na relação homem-mulher e ao ultrapassar o sexo biológico de pertença, significando não somente libertação dos humanos, mas também da natureza e das culturas não estruturadas no eixo do poder-dominação, equiparadas ao fraco e ao frágil, portanto ao feminino cultural.

A recuperação do princípio feminino permite um processo de libertação mais integral e verdadeiramente includente, pois parte do feminino está oprimido. O oprimido tem um privilégio histórico e epistemológico, pelo fato de possuir uma percepção percentualmente mais elevada e frequente, que inclui o opressor como ser humano. O opressor exclui o outro - o oprimido por ele -pois o considera uma coisa vendável ou um ser humano menor, subordinado e dependente. A libertação deve começar pelo oprimido para acabar com o opressor. Só então ambos se encontram sobre o mesmo chão, como humanos, construindo juntos, na igualdade e na diferença, a sociedade e a história.

Como mencionamos nesse relato, odestino convocou o herói a uma jornada mitológica, “o chamado da aventura”, significando que ele ao ser convocado foi transferido do centro de gravidade do seio da sociedade para uma região desconhecida. A aventura pode começar como um mero erro, como ocorreu com a aventura da princesa do conto de fadas, mas pode ser que o herói, ao caminhar a esmo, quando algum fenômeno passageiro atrai o seu olhar errante, seja levado para longe dos caminhos comuns do homem. Completada a viagem heroica, há o retorno: O herói retorna ao seu mundo comum com a recompensa, e acaba sendo agora senhor dos dois mundos, passando por crises por ter de voltar a uma rotina comum após passar por uma grande experiência sobrenatural, mas tendo que repartir sua experiência com o outro.

Vemos e sentimos na pessoa do poeta esse herói incansável, um profeta: primeiramente, este será convocado por Deus a caminhar e dirigir a si mesmo, ao outro e ao mundo, seus sentimentos. Deus convoca a todos à adoração a Ele,
não discriminando quem tem ou não formações acadêmicas. A pessoa que atende ao chamado,mas que não tem formação literária e teológica, por exemplo, se lhe interessar, em um segundo momento, “intelectualizar-se”, segundo as leis humanas (e ocidentais),que o faça!Os desenvolvimentos formais,cognitivo/alma/espírito/físicoe emocional,estãodisponíveisparatodos, assim como o compromisso para com Deus, para com nós mesmos e para com o social.

O profeta, como é empregado na bíblia, significa aquele que fala como mensageiro do Altíssimo Deus. Deve-se observar quenão há coisa alguma que implique previsão de acontecimentos. Pode um profeta predizer, ou não, o futuro segundo a mensagem que Deus lhe der. Desse modo, a palavra grega προφήτη ς(profítis) significa aquele que “expõe, fala sobre certo assunto”, que eleva as pessoas.O profeta e o psicólogo não estão necessariamente em atrito entre si. Em certos casos, um precisa do outro para enxugar as lágrimas, que não são exclusividade das pessoas que procuram ajuda. O papel dos dois é curar, restaurar, reconciliar, libertar. Ambos ajudam uma pessoa a se dar conta de suas dificuldades, porém com métodos e estratégias distintas.

A dor emocional pode ser causada pelo mal que é inerente à condição humana, em um mundo que jaz no maligno, assim como o boato, a mania de falar mal do outro, o assalto, o acidente, o desemprego etc. Pode ser ainda de origem relacional (rejeição, abuso, perdas e crises) ou espiritual (perseguição). O sofrimento pode ser fruto do mal que nos fazem, do mal que fazemos a nós mesmos ou ao outro em resposta, ou da compaixão diante do mal que atinge o outro, principalmente quando se trata de um filho, mas pode ser também uma empatia em relação à dor do excluído e do injustiçado. Existe, ainda, curiosamente, um sofrimento para alcançar algo bom, como as dores dos crescimentos.

O grande desafio é encontrar Deus na dor, em vez de fugir dela ou duvidar do amor de Deus. A bíblia alerta-nos que a tristeza pode gerar vida ou morte (2Co 7:10), pode ser estéril e até destrutiva ou então fértil. A questão não é a dor em si, mas a maneira como a pessoa lida com ela. O grande risco é sofrer por razões erradas, pela expectativa irreal de uma vida sem sofrimento e por achar que Deus nos abandonou. No livro Transforma meu pranto em dança, Nouwen pondera que o consolo vem quando nos dispomos a sofrer as perdas, em vez de negá-las. A cura começa quando tiramos a dor do isolamento diabólico, para fazer uma conexão entre o nosso sofrimento e o sofrimento de Deus, enxergando o nosso sofrimento como parte de uma grande batalha contra o poder das trevas. Não temos controle sobre a maioria das circunstâncias.

VI - CONSIDERACÕES

Nossa escolha tem mais a ver com nossa reação face às situações que a vida apresenta, com o ressentimento do outro por algo ínfimo e pobre. Ao encarnar, Cristo veio plantar neste mundo efêmero a semente da vida eterna, do amor incondicional, e, sob essa perspectiva, podemos ver nosso sofrimento como temporário.A esperança é muito maior e diferente de resignação passiva - é a fé pessoal e íntima Naquele que nos convoca e estimula a orar sem cessar.

A oração está para todos os humanos. É triste dizer que nós somos suficientemente perversos para encontrar razões para orarmosou não, ou não aceitarmos que o outro ore (rotulando-o); não importando a perspectiva que adotemos. Consideremos a oração como o chamado à viagem do herói! Agora, se você crê que Deus "elege" ou escolhe algumas pessoas para a vida eterna, e não escolhe (chama/convoca) outras, você pode ser tentado a pensar que não há motivo para orar pelo outro. O eleito infalivelmente será salvo: ora, como o sensível - que tem a anima como estrela guia -, que é um ser fraco - como era (é) rotulado o artista do sexo masculino, o poeta -, pode orar para o mais poderoso do que ele? Assim, ele terá boas razões para não orar diretamente. Por outro lado, podemos pensar que se Deus já fez tudo para salvar o humano, e agora tudo depende do livre arbítrio dele, por que permitirmos que o atual ser sensível - o sexo masculino possuído pela  anima - o poeta, interceda diretamente a Deus pelo outro, pela humanidade? Seu mistério diante de si mesmo e do outro não pode ser revelado! Não pode ser direto! Cabe ao sexo feminino a missão de falar diretamente com Deus? Maria foi a encarregada de avisar aos outros que Jesus não mais se encontrava no túmulo! Contudo, a incumbência de continuar a missão de Cristo coube aos homens. Ora, vivemos momentos, em que tanto a anima como o animus têm papéis importantes a serem desenvolvidos, a religarem, não necessitando uma alma aniquilar a outra para se desabrochar, se firmar.A oração é sentimento exposto como em uma psicoterapia. A oração é cura para a alma, para o espírito, para o corpo e para a nação e, ao universo,a oração é um santo alimento que nos penetra por meio de todos os sentidos. A oração leva ao amor universal!

A mais importante das fontes que continua a moldar a nossa vida como um todo, a nossa vida de oração, é a própria Bíblia, o estudo das Escrituras, com o objetivo de fortalecer nossa vida de oração, que tem, emum primeiro momento, um foco geral: aprender sobre Deus, seus caminhos e suas perspectivas, tendo, também, a vontade de compreender não somente a teologia elementar, mas também a oração.

Assim, nosso foco seguinte é o estudo das orações das Escrituras para percebermos o significado de fazer a oração ensinada a nós por Jesus Cristo, aprender a argumentar na oração como Moisés, a cantar como Davi, a ser perspicaz e expansivo como Salomão, aprender a orar com Paulo.

Agora, Senhor Deus, pedimos a tua benção sobre todos os que participaram desse estudo e aos que lerem esse relato, pois sem isso não haverá benefício verdadeiro. Podemos ter formas de orar, mas sem adoração e intercessão frutíferas. Podemos ter oratória, mas sermos carentes de unção. Podemos emocionar, mas não transformar.Podemos expandir as nossas mentes, mas demonstrarmos sabedoria e entendimento muito limitados. Podemos entreter a muitos, mas não sermos regenerados por seu bendito Espírito Santo. Conceda-nos força na doença, na fraqueza, na alegria, no sofrimento, na calma, nos conflitos, na paciência quando enfrentamos a objeção, a indiferença. E, quando odiados, termos firmeza e cautela quando o ambiente preferir as coisas passageiras. Amém, amém e amém!

São Paulo, 4.V.2014

Senhor,
Ajuda-me a dizer a verdade diante dos fortes e a não dizer mentiras para ganhar o aplauso dos fracos.
Se me dás fortuna, não me tires a razão.
Se me dás o sucesso, não me tires a humildade.
Se me dás humildade, não me tires a dignidade.
Ajuda-me a enxergar o outro lado da moeda, não me deixes acusar o outro por traição aos demais, apenas por não pensar igual a mim.
Ensina-me a amar aos outros como a mim mesmo.
Não deixes que me torne orgulhoso se triunfo, nem cair em desespero se fracasso.
Mas recorda-me que o fracasso é a experiência que precede ao triunfo.
Ensina-me que perdoar é um sinal de grandeza e que a vingança é um sinal de baixeza.
Se não me deres o êxito, dá-me forças para aprender com o fracasso.
Se eu ofender as pessoas, dá-me coragem para desculpar-me e se as pessoas me ofenderem, dá- me grandeza para perdoá-las.
Senhor, se eu me esquecer de ti, nunca te esqueças de mim.

Mahatma Gandhi

 

Referências

AUSTIN-SPARKS, T. Em Contato com o Trono. Disponível em: <http://www.austinsparks.net/portugues/books/002945.html>. Acesso em: 20 abril 2014.

GUITTON, Jean; BOGDANOV Grichka; BOGDANOV, Igor. Dios y laciencia: haciaelmetarrealismo [versióncastellana de Martín Sacristán]. 4. ed. Madrid: Debate, 1998.

NOUWEN, H.J.  M. Transforma meu pranto em dança. São Paulo: Thomas Nelson,2007.

JUNG, C. G. O Espirito na Arte e na Ciência. 3. ed. Petrópolis: Vozes,1985. 

 

AGRADECIMENTOS

 

Agradecemos aos poetas que participaram do estudo:

 

Adilia Monteiro

Alceu Sebastião Costa

Anna Peralva

Ariovaldo Cavarzan

Ary Franco (O Poeta Descalço)

Auber Fioravante Júnior

Carminha Guerreiro Viola da Silveira

Cássia (La Femme)

Cibele Carvalho

Cida Valadares

Daniel Cristal

Dioni Fernandes Virtuoso 

Efigênia Coutinho

Eugénio de Sá

Ir. José Roberto

Luiz Poeta

Marcial Salaverry

Marcos Sergio T. Lopes

Maria José ZaniniTauil

Nídia Vargas Potsch

OdirMilanez da Cunha

OdirMilanez e Fernando C. Lima 

Ógui L. Mauri

Rita Rocha

Rose Mori

Rutinha 

Sonya Azevedo 

Virgílio Roque (Gilíto)

Wilma Lúcia 

Wilson de Oliveira Carvalho

Yara Nazaré 

ZzCouto

 

 

* Os poemas coletados para este trabalho encontram-se em

O Poder da Oração no site de Cida Valadares (arte&poesia). Disponível em:

< http://www.arte.poesia.nom.br/verapessoa.htm >.

 

v Nossos agradecimentos à poeta Cida Valadares, pelo espaço que nos cedeu em seu site, para a publicação dos poemas que foram base e inspiração para esse nosso trabalho.

v Nossos agradecimentos à profissional competente, segura, afetiva e contingente Janete Bridon que, em todas as fases desse relato, esteve presente.

v À águia que desafia os ventos e céus - com sabedoria - sempre meus agradecimentos: Águia Real, webdesigner.

 

 

 

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