Vera Pessoa
“O Senhor é o meu pastor e nada me
faltará. Ele me faz repousar em pastos verdejantes. Leva-me para junto das águas
de descanso; refrigera-me a alma. Cuida-me pelas veredas da justiça por amor do
seu nome. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum,
porque tu estás comigo, o teu bordão e o teu cajado me consolam. Preparas-me uma
mesa na presença dos meus adversários, unges-me a cabeça com óleo; o meu cálice
transborda e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e
habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre.”
Salmo 23: 1 a 6.
Na
simplicidade deste Salmo 23, nota-se a profundidade e a força por detrás dele.
Sua paz não demonstra uma fuga psicológica. Seu contentamento não é
complacência. Há disposição para enfrentar as trevas e um ataque iminente. Seu
clímax revela um amor que não encontra satisfação em nenhum alvo material -
somente em Deus!
O Senhor,
nessesalmo, ocupa o lugar inicial, e essa demonstração é enfática como só
acontece nos salmos, não assinalando um senhor qualquer.
“É meu”, nesse Salmo,
revela-nos um relacionamento prometido que ousa vincular ao Senhor, havendo uma
demonstração da mera e atual situação humana. Nota-se que tudo nesse Salmo
decorre dessa vivência. Na palavra “pastor”, Davi emprega a metáfora mais
compreensiva e íntima que até aqui se achou nos Salmos, pois, costumeiramente,
ele usava palavras que denotavam distâncias: “rei” ou “libertador”; ou mais
impessoal: “rocha”, “escudo”; e outras palavras usuais. No entanto, ao empregar
“pastor”, Davi quis nos mostrar que ELE vive com seu rebanho, sendo tudo para as
suas ovelhas: o guia, o médico e o protetor. O Protetor...: e nada me faltará!
“(...) o meu cálice transborda de
misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na
Casa do Senhor para todo o sempre.”
Misericórdia é
a palavra da aliança traduzida como bondade em outros trechos. Juntamente à
bondade, há a sugestão de uma generosidade e apoio sólidos que podem ser
encontrados em um meio familiar bem firmado ou entre Grandes Amigos. No caso de
Deus, essas qualidades, além de demonstrarem solidez e de serem dignas de
confianças, são vigorosas, pois o emprego do verbo seguir não nos demonstra
significar, aqui, a tomada de uma retaguarda, mas sim o significado de
perseguir; tão seguramente como os “juízes” perseguem os ímpios. Ou, até mesmo,
uma perseguição instalada e desenvolvida na consciência dos que possuem,
minimamente, um senso de realidade e de sentimento de culpa por um ato maligno
praticado ao seu semelhante.
“Para todo o sempre”,
nesse versículo, demonstra, literalmente, “para a duração dos dias”, que não é
necessariamente, em si mesma, uma expressão de eternidade. Apresentando-nos,
porém, a lógica da aliança Divina, a qual não permite término nenhum do Seu
compromisso para com o homem.Sob nosso entendimento, essas palavras apontam para
um compromisso definitivo e absoluto: “Nem morte, nem
vida...poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso
Senhor”. (Romanos 8:38 e 39).
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