Natal
Vera Pessoa
É difícil acreditar que sejamos tão tolos e hereges na
época que chamamos de Natal, até que nos lembramos que a comemoração
dessa data é exatamente a maneira como muitos de nós agimos na vida
cristã. Estamos tão ocupados, correndo automaticamente para o
próximo item da agenda, que decidimos não parar para abastecermo-nos
espiritualmente e louvarmos o nascimento de Jesus ainda que em um
dia simbólico. Jesus Cristo que um dia ao mundo veio, viveu entre
nós, morreu e trouxe-nos a salvação eterna.
Infelizmente, os líderes cristãos podem estar entre os
piores transgressores do verdadeiro sentido da vinda de Jesus ao
mundo. Confrontados com exigências constantes e urgentes no Natal, é
fácil para eles negligenciarem ao chamado para o ministério da
Palavra e à oração. Podem perder-se por estarem ocupados demais com
as solicitações dos membros da comunidade e da própria sociedade.
Todos ficam envolvidos com árvores de Natal, presentes entre amigos
secretos, apresentações corais, peças teatrais, almoços e/ou
jantares comunitários e outras festividades a ponto que,
inconscientemente, o verdadeiro sentido do nascimento de Cristo
perde-se à margem das vivências momentaneamente prazerosas, bem como
ao fantasioso dia do nascimento do Prometido.
Na verdade, ficamos todos tentados a investir de
significado transcendental a todos os comportamentos emergentes
nessa nefasta data criada pelo homem imbuído por valores que não os
de louvar e venerar a Deus, de modo que, apesar de termos
consciência, ou parte dela, de nossa falta de espiritualidade e de
verdades que decorrem dessa data, ficamos a nos corroer
silenciosamente no fundo de nossas almas e consciências a dor e o
ruído que essa farsa toda nos leva, ficando anestesiados e
robotizados. Isso, provavelmente, leva a muitos de nós entrarmos em
sérios conflitos, com nossos pares em especial.
Há, nessa ocasião, um exacerbado movimento à alimentação –
em especial a grupal –, às bebedeiras, às compras, às trocas de
carícias, aos cumprimentos e às atitudes, em sua maioria nada
verdadeiras e saudáveis diante de Deus e do próprio homem. Não é
surpresa que muitos perdem-se em meio às dívidas, às glutonarias e a
todas as coisas que estão a fazer impulsivamente, freneticamente.
Agora,
Ó Deus Eterno,
como sempre,
à nossa mente,
baixo teu olhar,
pálidos,
insatisfeitos.
Eles nos revelam em suas coloridas,
Espessas vestes, os nossos mais antigos,
Conhecidos rostos como belas joias,
Lado a lado como cristais lapidados,
À espera de encontrar o prometido,
Com os olhos ainda fixos aos céus,
Mas perturbados pelo longo caminho,
O incontrolável mistério dado por ti.
Os Reis Magos
estavam tristes,
porque sabiam
que o Menino Deus
seria crucificado!
Ó Regente de vidas, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas puras mãos,
Beijando-o descesse ao meu negro desvão,
Talvez me libertasse e o encontrasse
Naquela noite brilhante do teu Natal,
Fugindo desse pesadelo tão cruel,
Não participando coletivamente,
Inconsciente, de Tua Crucificação!
São Paulo, 19.XII.2014.
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