Tela de Rafael Sanzio - A Sagrada Família

Museu do Louvre, Paris

 

 

 

 

Natal

Vera Pessoa

 

É difícil acreditar que sejamos tão tolos e hereges na época que chamamos de Natal, até que nos lembramos que a comemoração dessa data é exatamente a maneira como muitos de nós agimos na vida cristã. Estamos tão ocupados, correndo automaticamente para o próximo item da agenda, que decidimos não parar para abastecermo-nos espiritualmente e louvarmos o nascimento de Jesus ainda que em um dia simbólico. Jesus Cristo que um dia ao mundo veio, viveu entre nós, morreu e trouxe-nos a salvação eterna.

Infelizmente, os líderes cristãos podem estar entre os piores transgressores do verdadeiro sentido da vinda de Jesus ao mundo. Confrontados com exigências constantes e urgentes no Natal, é fácil para eles negligenciarem ao chamado para o ministério da Palavra e à oração. Podem perder-se por estarem ocupados demais com as solicitações dos membros da comunidade e da própria sociedade. Todos ficam envolvidos com árvores de Natal, presentes entre amigos secretos, apresentações corais, peças teatrais, almoços e/ou jantares comunitários e outras festividades a ponto que, inconscientemente, o verdadeiro sentido do nascimento de Cristo perde-se à margem das vivências momentaneamente prazerosas, bem como ao fantasioso dia do nascimento do Prometido.

Na verdade, ficamos todos tentados a investir de significado transcendental a todos os comportamentos emergentes nessa nefasta data criada pelo homem imbuído por valores que não os de louvar e venerar a Deus, de modo que, apesar de termos consciência, ou parte dela, de nossa  falta de espiritualidade e de verdades que decorrem dessa data, ficamos a  nos corroer silenciosamente no fundo de nossas almas e consciências a dor e o ruído que essa farsa toda nos leva, ficando anestesiados e robotizados. Isso, provavelmente, leva a muitos de nós entrarmos em sérios conflitos, com nossos pares em especial.

Há, nessa ocasião, um exacerbado movimento à alimentação – em especial a grupal –, às bebedeiras, às compras, às trocas de carícias, aos cumprimentos e às atitudes, em sua maioria nada verdadeiras e saudáveis diante de Deus e do próprio homem.  Não é surpresa que muitos perdem-se em meio às dívidas, às glutonarias e a todas as coisas que estão a fazer impulsivamente, freneticamente.

Agora,
Ó Deus Eterno,
como sempre,
à nossa mente,
baixo teu olhar,
pálidos,
insatisfeitos.

 

Eles nos revelam em suas coloridas,
Espessas  vestes, os nossos mais antigos,
Conhecidos rostos como belas joias,
Lado a lado como cristais lapidados,
À espera de encontrar o prometido,
Com os olhos ainda fixos aos céus,
Mas perturbados  pelo longo caminho,
O incontrolável mistério dado por ti.
 

Os Reis Magos
estavam tristes,
porque sabiam
que o Menino Deus
seria crucificado! 

Ó Regente de vidas, se eu beijasse
Teu gesto, sem beijar as tuas puras mãos,
Beijando-o descesse ao meu negro desvão,
Talvez me libertasse e o encontrasse

Naquela noite brilhante do teu Natal,
Fugindo desse pesadelo tão cruel,
Não participando coletivamente,
Inconsciente, de Tua Crucificação!

 

São Paulo, 19.XII.2014.

 

 

 

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Música: Oh Noite Santa
Compositor: Adolphe Charles Adam (1803-1856)
Coro do Tabernáculo Mórmon

 

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