Artista Plástica Abbadia Pessoa

Fotógrafo Marcelo Novo, 2013

 

 

 

Vera Pessoa

 

I

 

 

Oh! Que desânimo e dores profundas quando penso e escrevo em tua glorificação, mesmo sabendo que tantos te elogiam e poetas declinam o teu ser tão perfumado.
Quiçá, como eu, vivem a exaltar todo o teu vigor e alegria diante da vida, mesmo nos quatro dias antes daquele fatídico. 

Por que ter língua atada e água barrada perante tantas belezas que percebi silenciosamente brotarem de ti?
Até mesmo quando vivias em intensas, negras e definitivas dores, sem saberes de onde as vinham, sem te lamentares?

A todos suplico: deixem-me desaguar até a minha morte!

Ah, que linda eras: oravas com as mãos alvas, longas, meigas e erguidas a Jesus tendo a voz tranquila!
Firme e meigamente dizias que se fosse a tua hora preparada estavas.

Mami, tu fostes, és e sempre serás de grande importância e de pompa indescritível para mim.

Agora só, já que convivi por longos anos ao teu lado amoroso,

humilde, inteligente e criador; como o oceano tem o seu valor,
tentarei conduzir a minha velha nau cheia de vazios e buracos 

pela tua ausência, procurando ser como o teu navio garboso.

 

Porque, assim, se eu for ao fundo e o mundo gigante sem luz e desconhecido prosperar, será isso para ti a dor pior: 
o teu amor vir a arruinar-me.

 

São Paulo, 19.IX.2015 

 

 

II

 

 

Ah, aquele dia era o início de tua subida sem medida.
Deitava-me às nove da manhã após sonhos registrados
Quando liguei-te avisando que jogava-me lassamente à cama.

Apavorada pelas dores e náuseas, estavas a me chamar,
E ao teu castelo corri como num avião: socorreu-me a tua geriatra,
E, então, levei-te àquela nave branca e estranha.

Vi comportamentos gentis de seres com roupas brancas,
Mas ouvi que a solicitante pedia que a chamasse com urgência.
Saímos correndo da particular, mas fria caixa branca.

De lá, a cada segundo na casa de banho, ouvia-se meus gemidos.
Talvez meu ventre já percebia que o teu calvário se iniciava.
De março de dois mil e quinze até final de minha vida, lembrar-me-ei do tsunami que viria.

Verei até em meio a neblina que o teu preço era e sempre será imenso!
Riquezas de alma e coração acima de qualquer obtenção mundana!
Verei, também, infelizmente, que a pobreza de algumas almas é mais profunda e desconhecida do que o próprio mar.

 

São Paulo, 30.IX.2015.

 

 

III

 

 

Adeus!
 

Uma ponte muito antiga e uma torre espiritual mais antiga nos unia.
Uma terceira coisa material existia dentro de mim, e mais inchada estava. Tive de sair correndo daquele terreno pedregoso para cuidar-me, e junto ao cardio chorei.

Agora como dói meu coração ao me lembrar da rosa simbólica e linda que se abria ao outro mundo a partir daquele momento: culpa minha?

É muito bem provável que tu sabias que teu novo valor angelical estava próximo! Teu preço, tenho certeza absoluta, colocou-te acima de qualquer obtenção terral.

Pouquinho para a tua liberdade desta vida brutal, Jesus, aos teus ouvidos e espírito, deve ter sussurrado:

Liberta-te: o alvará de tua condição, e meus direitos sobre ti em vida não estão mais em vigor!
Possuo-te, bem sei, tão somente porque sempre consentistes  por inteira – minha amada, linda, tranquila e fiel filha!

Em que o Paraíso merece tão soberbo galardão?
Ter-te ao Seio Eterno?

 

São Paulo,23.IX.2015

 

 

IV

 

 

A Palavra, vida inteira, vivifica.
O teu silêncio, ó única Mulher, nem cala, nem fala, ri.
Não sem antes perguntares inúmeras vezes:
Verinha morreu?
Oh, agora como falas sem eu ouvir,
Como ri o teu riso
Pleno como aos dos anjos que vivem ao lado do Senhor?

 

São Paulo, 24.IX.2015.

 

 

 

 

 

 

 

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al Coro del Tabernáculo Mormón y a la orquesta de la manzana del Templo,

en esta magnífica interpretación del Aleluya de F. Handel.

 

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