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Ditmar Dimoser, em luizinacio sobre a democracia na América Latina, pergunta: "estará o futuro latino-americano caracterizado por democracias sem democratas?".

 

 

No caso do Brasil, esta pergunta envolve um absoluto paradoxo,   não em relação à democracia, mas à esquerda. E esta pergunta é dominada por outro paradoxo que, talvez, não esteja ausente do restante da América Latina: a esquerda ganha as eleições, na medida em que partidos de ‘esquerda’ ou de centro-esquerda alcançam a maioria no Parlamento, porém não governa.

 

Essa contradição da esquerda pode ser explicada, pelo menos como: a ideologia determina o voto no Brasil.

 

Essa hipótese já foi posta em dúvida por analistas internacionais, sendo a maioria de filiação conservadora, que também tendem a negar a relevância da diferença entre esquerda e direita. Mas, afinal, as pesquisas deixaram claro que os eleitores não possuem identificação ideológica suficiente que lhes permite distinguir as posições de esquerda ou de direita, progressistas ou conservadoras.

 

Singer testou essa hipótese em relação ao Brasil, e a viu confirmada. O Brasil transitou para a democracia em 1985.

 

Os partidos que dominavam o Parlamento brasileiro (por ordem histórica, PMDB, PSDB e PT) sempre se autodefiniram como partidos de esquerda: os dois primeiros de centro-esquerda, o último de esquerda e, junto com os pequenos partidos de esquerda, lograram a maioria na Câmara dos Deputados.

 

Dos presidentes eleitos diretamente pelo povo, desde 1985, dois se autodenominaram de esquerda: Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. É verdade que nem todos os parlamentares desses partidos puderam ser considerados de centro-esquerda: depois que o PT se tornou governo, alguns petistas eram de centro-direita.

 

Assim, no Brasil, é evidente por que os partidos e os candidatos presidenciais de esquerda tendem a ser eleitos com mais frequência do que os de direita. Isso está diretamente relacionado com a brutal desigualdade social existente no país.

 

Essa desigualdade, somada aos baixos níveis de educação e formação cívica do povo brasileiro, fizeram-no esperar dos políticos, um discurso voltado para melhor distribuição de renda.

 

Entretanto, uma vez eleitos, nem o presidente nem os parlamentares de esquerda fizeram um governo de esquerda. Ou seja, nenhum contribuiu para reduzir a injustiça social no país. Incluíram em suas administrações, algumas políticas sociais redistributivas, atendendo assim à pressão dos pobres, mas afinal seus governos promoveram sobretudo os interesses dos ricos, e a renda e a riqueza se mantiveram concentradas.

 

Fernando Henrique Cardoso, tinha uma trajetória conhecida: inicialmente, como intelectual de esquerda; depois, como político de centro-esquerda. Provinha do PSDB, partido que se pretende socialdemocrata inclusive no nome: Partido da Social Democracia Brasileira. Foi eleito porque, como ministro da Fazenda no governo intermediário de Itamar Franco, logrou controlar a alta inflação brasileira, com um plano de estabilização que neutralizava com competência, a inércia inflacionária. Entretanto, seu governo foi antes mais de centro-direita que de esquerda. Foi de centro-esquerda na área social, na medida em que aumentou a carga tributária e seu governo acabou concentrando renda.

 

Fernando Henrique adotou uma política cambial que aprofundou a desnacionalização da economia brasileira e levou a duas crises de balanço de pagamentos. Adotou igualmente uma política monetária de elevadas taxas de juros do Banco Central (BC), a qual beneficiou os rentistas, ou seja, os que vivem de juros, e o sistema financeiro que recebe comissão dos rentistas.

 

Mais surpreendente, ainda, foi o governo de direita que fez Luiz Inácio Lula da Silva. Como o PT se declarava um partido claramente mais à esquerda do que o PSDB, os mercados financeiros nacionais e internacionais pressupunham que sua eleição representasse uma clara guinada do Brasil para a esquerda.

 

A segunda crise de balanço de pagamentos do governo Cardoso, em 2002, deveu-se em parte a essa desconfiança. Entretanto, o que se viu foi um governo que, embora conservasse suas alianças com o sindicalismo e movimentos sociais, como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), revelou-se logo claramente de direita.

 

Isso ficou bastante claro em relação à política monetária: o nível da taxa de juros básica do BC, que já era a mais alta do mundo, aumentou ainda mais para satisfazer os rentistas. A taxa de juros real em 2005 foi em média de 12%, quando o risco Brasil não justificava mais que 3%. De um gasto com juros pelo setor público estimado em 160 bilhões de reais em 2005, correspondendo a 8% do PIB, apenas 40 bilhões de reais são justificáveis: o restante é mera transferência aos credores do Estado brasileiro, que se tornou refém com a desculpa de que essa taxa é necessária para combater a inflação.

 

Temos, assim, chancelada por um governo de esquerda, uma brutal transferência de renda dos pobres e da classe média, que pagam impostos (principalmente indiretos, no Brasil) para os ricos, que recebem juros e, no mercado financeiro, comissões.

 

Além disso, a política social do governo não revelou inovações. O único gasto social que aumentou foi o assistencialista, com a substituição do Bolsa Escola, que exigia dos pais pobres que os filhos estivessem na escola, para o Bolsa Família. Ou seja, em vez de ênfase em políticas universalistas, que são de esquerda, adotou uma política conservadora de focalização.

 

E afinal, no terceiro ano do mandato, tornou-se público que esse governo, de FHC, e o próprio PT, que durante anos insistira em seus padrões éticos, se envolvera em um processo sem precedentes de corrupção política, conhecido com o nome de "escândalo do mensalão".

 

O PT pagava com dinheiro o apoio que recebia de deputados de outros partidos, financiando-se com recursos oriundos evidentemente de empresas beneficiadas pelo governo.

 

Em síntese, conforme observou Fernando Cardim de Carvalho em trabalho recente sobre a esquerda e a política econômica no Brasil, "o primeiro governo FHC foi quase a antítese do que seria esperado da passagem pelo poder de um partido autodenominado socialdemocrata”.

 

Em outras palavras, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva nunca foram governos eleitos por uma suposta ‘esquerda’ e mostraram ser governantes totalmente desconexados dos interesses e necessidades dos pobres.

 

Um líder sindical, como foi Lula, é corporativista: seu papel é defender os interesses dos associados, do grupo econômico que representa. Um político, porém, não pode ser corporativista, de acordo com a ética da política que prevalece nas sociedades democráticas. Ele deve, em princípio, ser republicano, distinguindo os interesses próprios.

 

O PT, como partido de origem sindical, nunca foi capaz de fazer essa distinção, e também por esse motivo não foi capaz de enfrentar o poder das elites no seio da sociedade civil brasileira. Nas palavras de Marcos Nobre, o PT geriu o governo como se fosse um partido, e geriu um partido como se fosse um sindicato. Além disso, salientou Nobre, faltou ao governo do PT, capacidade para oferecer ao país uma alternativa de política não apenas econômica, mas também social: a crise aconteceu "porque não se conseguiu de fato mobilizar um discurso político e estabelecer um modelo político para o Brasil".

 

Assim, Luiz Inácio Lula da Silva e seus comparsas continuarão sendo, caso sejam eleitos nessa eleição de 2022.

 

Acrescidas as formas apresentadas por ele nos seus atuais ‘discursos’ ressentidos, agressivos, delirantes, controvertidos, sexualizados e não verdadeiros. Mostrando abertamente sua intenção de cobrar da sociedade brasileira, o pagamento do dinheiro que extorquiu  do Brasil.

 

 

REFERÊNCIA

 

1.- Carvalho, Fernando J. Cardim. "FHC, Lula e a desconstrução da esquerda". Rio de Janeiro: Instituto de Economia da UFRJ, 2005, cópia, pp. 10 e 15.

 

2.-Dimoser, Ditmar. "Democracia sin democratas: sobre la crisis de la democracia en América Latina".

Nueva Sociedad, no 197, 2005, p. 40.

 

3.- Singer, André. Esquerda e direita no eleitorado brasileiro. São Paulo: Edusp, 1999.

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São Paulo, 27 de Setembro de 2022

 

 

 

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Música: Carmen Overture

por Andre Rieu
 

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