Vera Pessoa
Temos certeza de que essa frase é um dos mais fortes pretextos que nos dias de
hoje fazemos uso. Vivemos em uma época em que os fazeres múltiplos nos dominam.
Temos o trabalho formal, temos as diversões, temos os diferentes compromissos
caseiros, temos as dores do físico, da alma e do coração, temos as famílias e os
amigos, temos a culinária, temos os bancos financeiros, temos as academias,
temos as atualizações diversas etc.
Contudo, tanto em um como em outro compromisso, o fazemos apressadamente,
dedicando-nos com pouco afeto às suas realizações e reservando pouco momento a
reflexões,a leituras ea contemplações de nós mesmos, do outro e do
universo!Alvejamos e queremos as conquistas relacionais e materiais de uma hora
para a outra como em um estalar dos dedos.
Quando paramos para respirar estamos tão cansadosque, às vezes, a televisão
domina-nos, e, diante dela, paramos por horas e horas – até mesmo sem “vermos,
ouvirmos” e muito menos sem escolher o programa que está passando à nossa
frente. Ficamos como hipnotizados diante das imagens e dos sons que ela nos
oferece, permitindo que estes, as mensagens vinculadas às imagens e os
vídeospenetrem nosso ser sem que os percebamos que está a entrar, a passar.
O resultado desses comportamentos é que, raramente, tiramos tempo para pensar,
para meditar, para inquirir, para analisar, e, raramente, tiramos tempo também
para conversarmos com Jesus. Vimos uma pessoa tão preocupada em se engajar em um
relacionamento materialmente – afetivo, lucroso, que, ao perceber a(o) sua
(seu) parceira (o) cautelosa (o) no seu envolvimento relacional saiu correndo
da construção afetiva-sócio-cultural-espiritual. A única coisa que o citado
“fusca” precisava era de combustível para seguir viagem - assim saiu correndo.
Entretanto, a menos de um ano à frente desse seu habitual modo de agir, percebeu
o quanto enganada(o) estava ao buscar em outra pessoa o que não encontrou na
relação afetiva anterior. Assim, o mesmo “fusquinha” estava tão apressado para
chegar ao seu objetivo final, social, que decidiu não parar para abastecer e
abastecer ao outro, e continuou na sombria esperança de que tinha recebido o
suficiente combustível que o levaria ao seu destino.Ora, ele aterrorizado parou!
É difícil acreditarmos que alguém seja tão tolo, até que nos lembremos que essa
atitude é exatamente a maneira como muitos de nós agimos diante da vida, da vida
cristã. Estamos tão ocupados correndo de um lado para o outro, para o próximo
item da agenda, que decidimos não parar para nos abastecer ao lado de Jesus.
Infelizmente, os líderes cristãos podem estar também a viver entre os piores
transgressores desta lei natural: a oração! Podem confrontar-se com as
exigências constantes, diversificadas e urgentes dessa nossa sociedade
consumista, socialista.
Na verdade, nós estamos tentados a investir de significado transcendental todas
as nossas atividades - observemos a elevada frequência de mensagens que falam de
Deus, de Jesus nas redes sociais -, de modo que, apesar da relativa falta de um
relacionamento com Deus por meio da oração, ficamos corroendo, silenciosamente
no fundo de nossa consciência, as dores e os ruídos causados pela importância
absoluta que damos a todas as coisas que atualmente vivemos.
É claro que dizemos a nós mesmos, no mais profundo do coração, que orar é de
suprema importância. Contudo, as nossas agendas estão sobrecarregadas de
afazeres que provocam em nós o ato de adultério contra nossa relação com Jesus.
Perguntamo-nos qual é a resposta de Deus a essa nossa dura e quase inevitável
forma de viver nesse tempo contemporâneo? A história de Maria e Marta (Lucas
10:38-42) certamente deve dar-nos alguma resposta sobre a percepção de Jesus a
respeito das nossas ocupações.
Marta tinha tanta certeza de que as suas escolhas e o seu ativismo estavam
corretos que ela se indignou com a calma de Maria. Além do mais, Marta sentia
que as suas ocupações não eram triviais, pois estava a preparar uma grande festa
na qual Jesus e várias outras pessoas se alimentariam. Seu trabalho devia ser
muito grande, bem como a sua preocupação, levando-a a exacerbação de sentimento
em relação à sua irmã Maria, sendo este manifestado por meio do ressentimento
contra o próprio Jesus: “Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado
que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me”(Lucas
10:40).
Como ainda nos dias de hoje, Jesus está a nos aconselhar e a confundir. Ele
calmamente respondeu à Marta: “Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com
muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria,
pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada” (Lucas 10: 41-42).
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