Vera Pessoa
O mistério do sonho, onde está ele?
Onde está que não aparece?
Pelo menos a mostrar-me o que é vida
E que ao dormir estou viva?
O que sabem disso minhas violetas?
Que resposta tem meu piano, meus livros e obras de arte?
E eu, que nada sou além deles, o que posso dizer?
Afirmar que é outra parte de mim que está a se revelar?
Sempre ao sonhar penso sobre esse mistério.
Será que meu corpo se desloca e vai ao teu encontro?
Será que teu espírito vem buscar o meu?
Anjos nos unem em ternos e eternos mistérios?
Ah, hoje contigo sonhei uma vez mais.
Não te vejo e nem nos falamos há tempo demais.
Quando te encontrei, fortemente te cunhei no mais profundo do ser?
Será mesmo que ao sonhar saio de mim e vou estar contigo sem saber?
No sonho desta noite, teus pés eram de lindas plumas azuis.
Teu rosto resplandecente com teus reveladores olhos era doçura.
Teu forte corpo, tuas mãos longas e suaves tocavam-me com ternura.
Tua boca, tua voz grave e melodiosa eram gris.
Ah, rio de ilusões que são como fresca água a correr pela pedra.
Mas os sentidos ocultos das coisas
Só têm sentidos porque as coisas são misteriosas.
Mistérios que dão sentidos ocultos à minha vida.
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São Paulo, 1. XI. 2011. |