Vera Pessoa
Neymar,
admirado e amado por nós, pela nação: à medida que o amor está a crescer entre
dois, também um temor cresce dentro do próprio amor. Trata-se, antes, muito
antes, de qualquer outro sentimento de um duplo temor! O primeiro é que o amor
não seja digno do próprio amor e que nunca será capaz de fazer o suficiente para
chegar ao outro, e onde ele próprio se encontra.
Ora, o
amor que a pessoa tem não significa nenhum descanso para ela própria; pelo
contrário, porque ele é a busca constante da própria contemplação mais elevada,
testemunhando a riqueza e a profundidade da relação com ele próprio, com a
pessoa que o carrega e com o Universo.
Esse temor é muito nobre, faz-nos progredir mais e mais do que qualquer outra
coisa, e faz de nós um servidor do amor! Com esse temor, obedecemos ao amor e o
servimos. Esse temor mantém-nos no temor e consagra-nos em tudo o que fazemos e
no que nos falta. Suste-nos quando abatidos estamos, pois necessitamos de um
despertar e de impulsos para a jornada continuar.
Na raiz
desse amor, ao pensar não ser digno do próprio amor que é tão grande, todo nosso
ser se subleva e nos priva do tão sonhado descanso. A punição à pessoa que sofre
desse amor - a sua busca maior -, faz com que as palavras cheguem a ela quando o
próprio temor era precisamente isso: que todas as suas teorias, hipóteses e
movimentos corporais sobre o amor não fossem escutados por ela, pela própria
pessoa do amor.
Esse
enlouquecido temor a faz livre, pois já não pensa em nenhuma outra coisa e nem
sequer a sente, pois a pessoa está ocupada em servir e comprazer o inteiro amor.
Ah, esse temor adorna e ilumina a mente da pessoa sofredora. Instrui seu coração,
purifica seus pensamentos e a sua consciência. Dando sabedoria ao espírito, ao
raciocínio, à alma, à memória, à emoção e à percepção, unificando-os. A pessoa
teme a morte sem muito temor, mas tudo isso faz desse
temor que teme não estar nunca à altura do verdadeiro Amor!
Ah, o outro
temor? É um temor que teme que o Amor não o queira o bastante que nunca
permitirá alcançá-Lo. Impondo à pessoa - amor tantas, tantas e tantas coisas
mundanas que ela chega a pensar que não suportará a carga pelo tão pouco que
desse mundo está a receber. Então, e assim, ela peca! Esse pecar vem carregado
das ideias falaciosas da própria sombra do amor da pessoa-amor, do próprio ser
da pessoa e da praga que o Universo está a assolar - satanás! Esse receio vem da
camada mais profunda do cérebro, tornando-se superior até mesmo à confiança
primária - sua companheira nascente.
Estamos
a falar do amor que ama com tanta violência que até teme perder a razão,
perdendo-a, às vezes. Seu coração sufoca-se, suas artérias fervem até que se
rompem, suas lágrimas e dores deslizam-se pela carne e sua alma se derrete.
Contudo, apesar de o amor estar no ser da pessoa com tanta bravura pode não
sentir o próprio amor e nem se fiar nele, porque seu receio tornou-se
insaciável.
O nobre
receio é a causa de que o seu desejo não se tranquilize nem se sinta seguro no
próprio descanso. Ficando sempre o temor de não ser amado pelo próprio amor,
pela pessoa-amor e pelo outro o suficiente para manter o fio de ouro que os liga
ao Amor. É tão profundo esse receio que ele sempre inquieta alguém, ou de não
amar o bastante, ou de não ser bastante amado.
Ele, a
pessoa objeto dessas reflexões, é tão sábio que alivia essa dor/enfermidade
procurando com o coração uma constante fidelidade a si mesmo, ao outro, à nação,
ao mundo e a Deus em todas as circunstâncias no seu belo fazer. E chega a sofrer
de bom grado toda a pena em nome do Amor! Calará pelo Amor em todas as ocasiões
que outro não perderia a oportunidade de responder. Calará quando vontade de
gritar teria, mas assim se comporta, a seu modo, para evitar críticas ao Amor.
Resumindo, ele prefere acima de suas forças a tudo suportar para que nada falte
em sua retribuição ao Amor!
Sabe,
sem que sua cristã mãe tenha literalmente dito, que para conseguir a paz do amor
autêntico há de depor toda a ira, ainda que tenha de olhar de frente o rei das
trevas. O que ama obriga-se a deixar tudo e a desprezar sua própria pessoa,
colocando-se por último de todos para contentar o Amor. Ele que ama, como todo
aquele que ama, deixa que o condenem sem desculpar-se, sentindo-se dessa maneira
livre no amor. Ele que ama agüenta a disciplina para adquirir todas as
instruções. Ele que ama, como todos os que amam, procura ser recusado para ser
plenamente livre nessa terra. Ele que ama busca a solidão para poder amar,
buscar e possuir o Amor!
Ora,
nosso guerreiro Neymar,
Neymar da Silva Santos Júnior,
nosso menino de ouro, meu menino com movimentação corporal diferenciada (MCD),
não posso nada mais dizer-lhe nesse momento, porque muitas coisas têm me
angustiado – umas presenciando, outras as sentindo - e tenho o coração doído e
acabrunhado por tudo de tristeza que vejo acontecer e em parte pela insegurança
primária. Quando voltar à paz, outras coisas direi além dessas que, com amor,
aqui depositei.
[…]
You raise me up, so I can stand on mountains;
You raise me up, to walk on stormy seas;
I am strong, when I am on your shoulders;
You raise me up: To more than I can be.
[…]
"You raise me up" by Celtic Woman
Letra: Brendan Gaham
Você me ergue, para que eu possa ficar nas montanhas;
Você me ergue, para andar em mares tempestuosos;
Eu sou forte, quando estou em seus ombros;
Você me ergue: Para mais do que eu posso ser.
(Você
me ergue, tradução minha)
São
Paulo, 5.VII.2014
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