Vera Pessoa & Odir Milanez
Eu, pecador, a vós, em confissão,
consciente de todos os pecados
que cometi, e a mim são debitados,
venho Senhor, pedir vosso perdão.
Dos versos meus ouvi a oração
na contrição dos erros praticados.
Não me conteis, Senhor, nos deserdados,
aqueles a quem pesam vossa mão!
Perdoai do meu corpo as
transgressões
à vossa lei, a todas as pressões
que vos faço no empeço da loucura.
Mas concedei a paz, a vossa calma,
ao tormentoso anseio da minh’ alma,
pois a minh’ alma, ó Pai, minh’ alma é pura!
(“Ato de contrição”- Odir Milanez)
Os cânticos contidos nos versos do Salmo
cento e vinte e três (123) refletem a
história turbulenta de Sião e, de certa
forma, refletem, também, a história do povo
da igreja contemporânea. São cânticos de
contrição que espelham o clamor dos nossos
irmãos contemporâneos, perseguidos pelos que
não creem na salvação vinda do nosso Senhor
Jesus Cristo, e perseguidos por eles
próprios.
Traçando, genericamente, um paralelo entre
os olhares do peregrino do citado Salmo com
o olhar do viajante do Salmo cento e vinte e
um (121), vemos que ambos sofredores tiveram
que aprender a olhar mais alto do que
olhavam para os montes, para alcançarem
vitórias.
"Olho para os montes e pergunto: De onde
virá o meu socorro? O meu socorro vem do
Deus Eterno." (Salmo 121: 1 e 2).
As palavras do salmista sofredor voam bem
alto, acima das suas circunstâncias,
colocando seus problemas em um contexto
suficientemente grande para contê-las.
Olhando bem acima dos rasteiros problemas
mundanos, os viajantes são abraçados pelo
seio bom materno - Deus Pai, Deus Filho e
Deus Espírito Santo - e os peregrinos
sofredores são confortados e abastados pela
fé.
“A tua justiça é firme como as grandes
montanhas, e os teus julgamentos são
profundos como o mar.” (Salmo 36:5).
Observamos que o servo está a se moldar para
o cumprimento do olhar acima do mundo
materialista. Agora, no versículo dois do
Salmo cento e vinte e três, os olhares do
viajante sofredor fixam-se em um ponto único
- mais perto do Pai Nosso, com vigilância
treinada para o mínimo gesto de Jesus.
Os servos aguardam alívio e não ordens:
contudo, continuam sendo servos, sempre
leais e submissos. Recusavam-se a aliviar a
tensão de esperarem por Deus, por meio da
renúncia do seu amor, ou de comprarem suas
liberdades do homem soberbo, aliviando-se
dos desprezos deste. O sentimento de
desprezo penetra mais profundamente no
espírito do que qualquer forma de rejeição.
Como observamos no capítulo cinco de Mateus,
versículos doze e treze (12, 13), o
comportamento de desprezo a alguém é
considerado mais assassinato do que o
próprio ato de matar. “Felizes são vocês
quando os insultam, perseguem e dizem todo
tipo de calúnia contra vocês por serem meus
seguidores. Fiquem alegres e contentes,
porque está guardada para vocês uma grande
recompensa no céu. Pois foi assim mesmo que
perseguiram os profetas que viveram
antes de vocês.”
Mesmo assim, o ferrão do desprezo é retirado
da carne do cristão, como tudo que é
retirado, dentro da capacidade daquele
viajante sofredor. Por outro lado, o
instrumento que cunha na alma uma ferida
pode ser uma honra ao cristão: honra a
própria imagem do Cristo que o aceitou
porque sabia que essa entrega o levaria à
redenção eterna.
“Os apóstolos saíram do Conselho muito
contentes porque Deus os havia achado dignos
de sofrer insultos por causa do nome de
Jesus." (Atos 5:41).
Mas concedei a paz, a vossa calma,
ao tormentoso anseio da minh’alma,
pois a minh’alma, ó Pai, minh’alma é pura!
(“Ato de contrição” - Odir Milanez)
Em Lamentações três, versículos trinta a
trinta e três (30, 31 e 33), temos resposta
ao sofrimento - resposta dada por um outro
sofredor que vivia no meio de semelhante
tipo de situação vivida pelo nosso
personagem do Salmo cento e vinte e três
(123) e pelo que nos deixa transparecer o
poema “Ato de contrição”. “Dê a face ao que fere; farte-se de afronta. O Senhor não rejeitará para sempre [...] porque
não aflige nem entristece de bom grado os filhos dos homens."
Ó Deus Eterno, levanto os olhos a ti que
tens o trono no céu.
Como o escravo depende do seu dono e como as
escravas dependem das suas donas, assim
olhamos para ti, Ó Eterno, nosso Deus,
esperando que tenhas compaixão de nós.
Tem compaixão de nós, Ó Eterno! Tem
compaixão, pois somos tratados com muito
desprezo!
Somos sempre desprezados pelos ricos, e os
orgulhosos zombam de nós. (Salmo 123, 1 a
4). |