Tela: Artista Abbadia Pessoa

 

 

 

Vera Pessoa

 

Andando no meu terraço, percebo que em grande parte dele a sombra cobre quase a metade das flores e dos canteiros tão coloridos. Maravilha, a primavera chegou! Fantasio que a sombra estará a dissipar-se crescentemente e haverá um momento em que o sol deixará de expandir-se por todo o meu terraço, e ele será intensamente iluminado.

Acreditem, somente assim dou-me conta de que o tempo está a passar. Desde que atingi os meus oito anos de idade percebi que a sombra faz parte da vida, e que ela avança no verão, mas que vai aos poucos se extinguindo. Ah, a primavera é a estação muito linda, movimentada, ritmada, colorida e perfumada entre todas as estações; mas o verão cheio é o instante de um esplendor fulminante. No Brasil, na minha terra Goiás e em alguns dos estados brasileiros, o sol desperta uma incrível magia no ar colocando o corpo e a alma de todas as pessoas num mágico, delicioso e atordoante cio (Penso que também em todo o universo).

Não sei se é felizmente ou infelizmente, a sombra não me dá nenhuma trégua: ela vai avançando sobre tudo, sobre todos e até sobre a vida, apontando simplesmente que existe o tempo e que ele está como um raio a passar. A sombra cutuca-me, chegando a me apertar o peito e traz-me notícias de tudo e de todos até o aviso de morte, mesmo o amor estando bem longe de mim. Ah, confesso, tenho andado cabisbaixa por causa do tenso momento em que o povo brasileiro está a passar (é a assustadora situação das eleições presidenciais e o que poderá vir por aí), mas, para amanhecer hoje, a minha noite foi bem diferente das demais: eu tive um sonho muito estranho e acordei muito triste.

A descoberta do tempo é um sentimento que tem uma tarefa primordial na vida de uma pessoa, eu creio! Mas cada pessoa tem o seu tempo interno e externo e toma contato com ele por meios diversos. Não adianta forçar ninguém a seguir o tempo do outro porque, se isso acontece, o desastre ecológico mais cedo ou mais tarde virá sem que a pessoa envolvida dê-se conta, e essa sensação vem como um tsunami. Ah, a descoberta do tempo é como uma dor de parto, pois a pessoa que se permiti passar conscientemente pelo processo nasce outra vez. Pode soar estranha essa minha fala, não? Mas quem já passou por esse redemoinho sabe muito bem sobre o que falo. Quem observa, observa uma flor ou um fruto brotando e se abrindo de uma árvore entenderá tudo isso.

A morte é um tipo de tempo, e um amigo amor meu lá de Portugal partiu nessa madrugada para viver um outro tempo seu (estou a chorar): que Deus o tenha no seu colo porque Nando sofreu muito fisicamente e emocionalmente por longo tempo nessa terra. Ele era tão paternal, carinhoso, atencioso e amoroso apesar de ter os seus rompantes. Ele estava sempre disposto a fazer tudo (mesmo enfermo) e a ajudar a todos! Adora os gatos e tinha o seu antigo e fervoroso companheiro. Nando era um artista não somente da escola da vida, mas como profissional Sua maior inspiração e força de vida era a sua Linda, Olinda, sua esposa. Vejam, eu também não contei que ando acabrunhada e cabisbaixa! Pois é, estou sempre a espera de que o tempo – que pode ser agora a pouco, que pode ser amanhã, não sei não -, irá dar-me uma bela rasteira. O pior é quando fico a pensar que ele pode pregar uma enorme artimanha também no meu país, o Brasil – por meio de um golpe quase sem remediação. Fico horas e horas lendo, vendo e ouvindo o que está a ocorrer nessas eleições, e sinto terríveis calafrios e até arrepios. O Nando já está vivendo um tempo muito, muito e muito melhor do que aqui ele vivia. O difícil será para nós que ficamos... Mas, e o brasileiro como será o seu amanhã após eleito o presidente do Brasil?

Nessa loucura para ser o presidente observo entre os candidatos, em especial a candidata pelo PT, que estão a manipular a cabeça das pessoas – destacadamente as do norte e do nordeste – como se elas fossem marionetes (olha que já presenciei e participei de muitas eleições presidenciais, mas essa está a ser um descalabro). Um dos grandes perigos que estou a perceber é que o povo brasileiro pode misturar na sua cabeça, emoção, corpo e alma o que os políticos (o PT) estão insistentemente a dizerem e a martelarem como se batessem em bigornas. Cantam um refrão (o pior que cantam bem desafinado!) que aborda a pobreza e o ato de não saber votar. Querem parear a pobreza de uma pessoa com a sua ignorância ao se comportar, como se o adversário estivesse a afirmar isso. Tentando com essa pregação ganhar votos no norte e no nordeste especialmente. Com isso, instigam a revolta do eleitor bolsa família. Ah, e aí o imaginário coletivo pode empurrar fortemente as pessoas a acreditarem no que ouvem, que elas são protegidas apenas pela mãe seio mal e que o candidato opositor é o lobo mal (até pode vir a ser tendo um FHC como um aliado, mas até que provém o contrário há vários tempos...), e que, para além disso, o candidato fala que as pessoas são burras, que não possuem a sabedoria natural da natureza se elas são analfabetas e pobres (eu já convivi com tantos sábios analfabetos e pobres). Com isso, o PT está a semear com mãos de ferro a segregação e a discriminação levando as pessoas a sentirem-se muito pequenas e ainda mais discriminadas do que são como se estivessem vivendo em centro de concentração. Bem, pensando um pouquinho - elas não estarão já a viver concentradas em campos nazistas ao receberem as migalhas tão decantadas aos quatros ventos que lhes são dadas? Agora, há um agravante e todos os estudiosos sabem disso, que, para a sobrevivência do “maior”, há de ter-se o “menor”. O PT estudou bem a cartilha da humilhação e a da dominação com a lavagem cerebral.

Agora, vejam bem onde fui parar com essa conversa sobre o tempo. Não era minha intenção entrar nessas questões metafísicas – morte e eleições –, mas a sombra empurrou-me e aqui vim parar. Apenas tecia alguns comentários sobre o meu terraço. Bem, acabei registrando que espaço é tempo exterior e interior e é também e, consequentemente, um Imaginário Coletivo. Então, posso concluir que a vida é realmente uma viagem, viagem para dentro e para fora de nós mesmos e, muitas vezes, ela é uma viagem sem volta, havendo seguramente salvação apenas para a morte física.

Muito superficialmente, esse texto traz o que a sombra genericamente pode provocar sobre a pessoa humana. Nada fazendo sentido no seu falar, pensar e comportamento - tudo sendo um devaneio. A pessoa pode passar de um fazer/assunto para outro, de uma acusação à outra, de um fato consciente a outro que tange o inconsciente. Ao escrever esse texto, nosso pensamento foi envolvido pelo conceito de Sombra à luz junguiana. Aqui, a pessoa humana é como um terraço que ora pode ser iluminado pelo brilho consciente de um sol, ora é envolta numa intensa e inconsciente sombra que vai e vem. No caso presente, temos observado a ocorrência do fenômeno Sombra sobre o povo brasileiro que é bombardeado pela campanha do partido dos trabalhadores (PT). Sombra densa que tem ido e vindo destrutivamente sobre a nação brasileira. Uma Sombra formada por uma elite intelectual que arrasta a pessoa menos favorecida a várias fantasias infantis, sendo algumas delas – talvez as piores - a do ter e ser, a de possuir ao seu lado uma pessoa igual que dá o amparo de uma mãe bondosa casada com um pai maravilhoso. Sendo, na verdade, uma madrasta má e perversa que, mesmo tendo permitido seu alto escalão vergonhosamente roubar a nação brasileira, é ainda capaz de apresentá-los ao mundo como os salvadores, os benfeitores - desconstruindo satanicamente tudo o que o Sol tenta construir, tenta fazer e poderia fazer sem fantasias e falcatruas ao longo dos anos.

“Não vamos desistir do Brasil. É aqui onde nós vamos criar nossos filhos, é aqui onde nós temos que criar uma sociedade mais justa” (Eduardo Campos).

 

São Paulo,

10.X.2014
24h58m

 

 

 

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Música: Concerto com a Filarmônica de Berlim,

dirigida por Gustavo Dudamel, em 15 de junho de 2008.

No repertório, Bachianas Brasileiras nº 5, de Heitor Villa-Lobos.

Atuação espetacular da soprano porto-riquenha Ana Maria Martínez.

 

Letra de Ruth Valadares Corrêa:

Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente.
Sobre o espaço, sonhadora e bela!
Surge no infinito a lua docemente,
Enfeitando a tarde, qual meiga donzela
Que se apresta e a linda sonhadoramente,
Em anseios d'alma para ficar bela
Grita ao céu e a terra toda a Natureza!
Cala a passarada aos seus tristes queixumes
E reflete o mar toda a sua riqueza...
Suave a luz da lua desperta agora
A cruel saudade que ri e chora!
Tarde uma nuvem rósea lenta e transparente
Sobre o espaço, sonhadora e bela!

 

 

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