Vera Pessoa


Lá vai ela andando só: não tem ninguém
Onde possa morrer um pouquinho toda morte que a espera.
Se ela é portadora de um grande e nobre coração,
E aprendeu a abri-lo como o seio dessa misteriosa terra,
Qual é o comum e a diferença entre ela e ele
Que na juventude foram mãos dadas um ao outro
Por sobre tantas mortes que nos dias viveram?

Ouçam, é no peito que mulher e homem riem e sofrem.
Como tecidas cobertas, mutuamente, cobrimos nossos corpos.
Protegemo-nos das dores e nos aquecemos, muito mais,
Nas noites que tiveram as lindas cores quentes do amor.
Pena é que não levaremos aos nossos túmulos
Todos nossos resplendores, os quais poderiam aquecer
Cadáveres gélidos, sem sangues cores arco-íris nas veias.

Não levarão mais do que o orgulho de terem sido jovens ingênuos,
Que cravaram nas suas almas e nas dos outros gestos egoístas.
Às vezes, atos interesseiros sem afetos, sem cumplicidades.
Duras mentiras pelas e nas quais viveram sem saber que é lá
Que, ao seu tempo, tudo nasce e ou morre.
Nada levarão na grudada mochila, mais do que ilusórios brilhos.
E nesse único dia verdadeiro partirão para nunca mais voltarem.

Assim e então verão, finalmente, que suas atitudes
Hão de implicar, embora pequena, em qualquer consequência.
Ah, amor meu, homem meu querido, leva-me contigo...
Não mais quero sem ti viver. Há anos tenho me esquecido
De viver sem ti! Não precisarei nunca mais sentir a falsidade ocidental.
Deus viu, ainda vê, mentiras dos homens vestidos de cordeiros,
Mas por que morreu por eles?

Quanta responsabilidade têm, mais do que consequentes mulheres.
Que esses não sejam como as figueiras que não dando mais frutos
Lançadas são às fogueiras dessa vida mal ou bem vivida.


São Paulo, 23.I.2014