Sagrada Família de Michelangele

 

 

 

 

Vera Pessoa

 

É muito sofrido tentarmos aceitar e adequarmo-nos ao que percebemos em relação à sociedade brasileira capitalista contemporânea. Ela tem despertado novos significados e valores às pessoas e os transmutado para o pior em relação a nossa época de criança e adolescência. Em outros tempos, o significado dos vínculos humanos e datas festivas, por exemplo, eram apreendidos verdadeiramente afetivos, respeitosos, valorosos e alguns eram vistos como transcendentes e divinos.

 

O significado de igualdade entre os homens, por exemplo, vem sendo usado e abusado como comportamento construtivo e verdadeiro, levando-os a se comportarem como robôs e a perderem as suas individualidades físicas (emoção, alma, cognição) e espirituais. Vemos hoje o conceito de igualdade sendo encarado como uniformidade e não unidade!

 

Algumas pessoas somente representam-se nas comemorações, como no Natal, deixando-se envolver pelo comportamento social uniforme de autoengano, auto piedade e glutoneria. Oferecem ao outro um afeto falso brilhante e nenhuma e/ou verdadeira comemoração do nascimento de quem deveria ser o dono da festa – Jesus Cristo. Comprometem-se à fantasiosa uniformidade social de alegria; do que se é e do que se tem; da democratização do conhecimento e da sabedoria. As pessoas estão se perdendo de si mesmas e o valor da construção genuína da unidade humana. Colocam em último lugar a criação da essência da pessoa humana: a formação dos laços afetivos. Estão abandonando a leitura e a reflexão de livros – em especial a Bíblia Sagrada – que edifica o homem (há pouco tempo ouvi de pessoas que escrevem que nunca haviam lido um livro literário e, menos ainda, um voltado a qualquer área do conhecimento).

 

Pergunto-me: Estamos nos tornando naturalmente e com grande facilidade autodidatas, “inteligentes”, “cultos”, emocionalmente bem resolvidos, desenvolvidos em todos os aspectos e cognitivamente acima do “normal” - “gênios”? Estamos todos nós recebendo similar e simultaneamente os mesmos comandos das diversificadas partes do cérebro, do meio ambiente e do universo sem termos consciência das ocorrências desses fenômenos? E esses ganhos estão ocorrendo na mesma intensidade, na mesma dinâmica, no mesmo colorido, no mesmo ritmo, na mesma melodia e na mesma qualidade?

 

Estamos em conjunto e igualmente, a anos luz, influenciados pelo que o suíço Carl Gustav Jung, discípulo de Freud, definiu como arquétipo? Para Jung, os arquétipos são conjuntos de “imagens primordiais” originadas de uma repetição progressiva de uma mesma experiência durante muitas gerações, armazenadas no inconsciente coletivo.

 

Segundo Mark e Pearson, os arquétipos descritos em O Herói e o Fora-da-Lei são exemplos de algumas figuras que todos nós temos no imaginário desde criança - independentemente de onde fomos criados, do país que vivemos e das nossas religiões e crenças. É por isso que os arquétipos estão presentes nos mitos, nas lendas e nos contos de fadas. São eles que dão o verdadeiro significado para as histórias que passamos de geração em geração. Afinal de contas, as pessoas criam essas histórias para externar o que existe no inconsciente? Os arquétipos ajudam-nos a satisfazer algumas de nossas principais necessidades como a imprescindibilidade de realização, de pertença, de independência e de estabilidade.

 

É interessante observarmos que o livro citado – voltado ao mundo dos negócios e do marketing - nos mostra como construir marcas extraordinárias usando o poder dos arquétipos. O Herói e o Fora da Lei oferece um sistema claramente estruturado que todos os profissionais dos focados mundos poderão seguir e reproduzir usando apenas o poder dos arquétipos. “Os leitores aprenderão como compreender o significado profundo da categoria do seu produto e ‘reivindicá-la’ para a sua marca; como avaliar o panorama competitivo a partir de uma perspectiva arquetípica; como ligar-se mais profundamente aos clientes; e como contar a história de sua marca de modo a evocar os padrões narrativos mais duradouros e apreciados no mundo todo”.

 

Ah, e a aprendizagem e o fortalecimento dos laços afetivos entre as pessoas (bebês, crianças, adultos e famílias) - que são cientificamente estudados - onde os colocamos nas prioridades sociais?

 

Bem, ressaltei acima o “que não sentíamos” necessidade de dizer ao rascunhar este texto. Pretendo e quero salientar somente o cuidado que devemos ter - até mesmo encararmos com um certo ceticismo – diante das alterações de afeto e da espiritualidade na festividade que o homem tem comemorado com tanto vigor econômico e emocional: o Natal! Formas de comemorações que vêm a ocorrer com crescente, até entre nós cristãos, desnorteando-nos das orientações da Sagrada Escritura, a Bíblia. Alterações apostoladas e praticadas como sendo a união entre os membros familiares, estimulando-as a se formarem em clãs!

 

Mesmo tendo o conhecimento de que Jesus Cristo não nasceu na data em que se comemora o Seu nascimento (segundo descrições na Bíblia e relatos científicos), soam, com profunda tristeza, algumas práticas que estão sendo adotadas também em muitas das nossas igrejas evangélicas: (1) se o culto é realizado no dia do Natal, após o seu encerramento, as pessoas saem correndo da igreja para irem à ceia em suas casas (indago: as pessoas estavam inteiramente presentes ao culto?); (2) há pessoas que nem vão à igreja porque foi suspenso o culto natalino; (3) muitos membros das igrejas que são solitários continuam a passar sozinhos as horas natalinas festejadas com comidas e presentes pelos “irmãos” das igrejas...!

 

Na nossa época de criança e adolescência, a comemoração do Natal era realmente alegre, festiva. Tínhamos os belos cânticos natalinos interpretados por corais, individualmente, por grupos e pela congregação. Havia dramatizações sobre o nascimento de Jesus, a anunciação da Palavra por um Pastor etc. E, na própria igreja, participávamos da ceia natalina após o Culto. Esta era organizada/confeccionada/criada pelos membros da igreja, ou cada um levava ao grupo um prato simples, mas muito saboroso! Os amigos também eram convidados a participarem desse afetivo jantar.

 

Ah, era aquela Paz que reinava entre os irmãos da igreja!
Ah, era simples a comemoração, mas comemorávamos o nascimento de Jesus!
Ah, era uma vivência intensa de fé e de esperanças!
Ah, era a unidade que reinava entre todos do mesmo sangue ou não!

 

Ah, que judiação! Sinto a necessidade de fortemente ressaltar que a atual forma de comemoração do Natal – e também a fantasiosa passagem de ano - tem sido Muito Cruel a cada ano que se passa - por mais surrealista que soe, até mesmo entre as pessoas da mesma linhagem.

 

Creiam, ainda que as pessoas não se percebam e/ou apercebam esse perverso fato, ele está ocorrendo com muita regularidade! Com dores mais fortes, imagino o que está a acontecer com as pessoas que não têm mais parentes vivos nesta terra...

 

Infelizmente, também tenho que admitir que, se essa crueldade é auto percebida e/ou vista ao longe, não tem sido totalmente verbalizada, porque predomina na nossa sociedade o pensamento falacioso pertencente à dominação: verbalizar em alta voz as feridas da alma é ser uma pessoa fraca, dramática, louca etc.

 

Atentemo-nos ao pensamento: “O conhecimento serve para encantar as pessoas. Não para humilhá-las” (Mário Sérgio Cortella).

 

 

São Paulo, 10.I.2016.

 

 

 

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Música: Requiem, KV 626:

Lacrimosa por KPM Philharmonic Orchestra, KPM Choir,

Hieronym Baltazar & Maciej Korczaky
Wolfgang Amadeus Mozart

 

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