Tela: Artista Celito Medeiros

 

 

 

 

A arte e a ciência
 

Vera Pessoa

 

Iniciamos estas reflexões rememorando o homem: um ser-no-mundo-com-os-outros, tendo como base, em alguns dos nossos pensamentos, os escritos da ser-poeta e filósofa Thaís Curi Beaini, em À Escrita do Silêncio (um estudo sobre a linguagem no pensamento de Heidegger).

O homem é um ser-no-mundo e, como tal, tem, ao seu entorno, os entes diferentes dele e outros homens aos quais se assemelha fisicamente. Sua identidade é dada pelo termo “eu”, o que o diferencia dos entes e dos outros homens. O “designer”, ao qual a autora se refere, tem um parentesco com nós mesmos, sendo, então, nós mesmos.

O ser-ai é o ente que sou eu mesmo, seu ser é meu. Esta determinação visa a uma constituição ontológica, mas somente a indica. Ela sustenta ao mesmo tempo a afirmação ôntica – não desenvolvida – de que este ente sou eu, eu e não o outro.(M. Heidegger. L'Être et le Temps, p. 145-citado por Beaini). 

Notamos que, ao mesmo tempo em que o termo “eu” individualiza e determina o homem, ele possui a possibilidade de compartilhar seu ser. Inerentemente, ele é um ser-no-mundo-com-os-outros com os quais ele coexiste, e coexistir pertence ao próprio constituir-se do homem como tal.

O “fenômeno” de que “nós somos” implica a presença do outro que é “igual” a nós mesmos, assemelhando-se fisicamente, à fala e, às vezes, às preocupações. Ora, o conhecimento que temos do outro – do meu mais próximo -, ao invés de empurrar-me a alcançá-lo, em profundidade, deixa-se ficar apenas no supérfluo, justamente pelo dado que coletamos da proximidade. Consequentemente, o outro, ao invés de mostrar-se real a mim, aparece dissimulado em suas possibilidades de ser-ele-mesmo.

Ademais, a dissimulação do outro implica uma dissimulação do “eu”: o homem não se conhece! Nesse enquadramento, notamos que o homem, cotidianamente, busca desenvolver suas possibilidades de ser a partir dos outros. Ou seja, fundamentando-se naquilo que ele não é!

Esse fenômeno ocorre no princípio, porque o homem participa de um ser-em-comum-com-os-outros, dos quais ele não consegue posteriormente distinguir-se, perdendo-se em meio à massa – ficando no superficial –, em que os outros escolhem e determinam, de antemão o que ele deve aprender a perceber, a discriminar, a apreender ou a deixar de lado.  Assim, esse homem que sem rumo está, mas não tem consciência dessa sua realidade, recebe normas de agir, de vestir-se, de falar, de divertir-se, de interessar-se. Consequentemente, o homem afasta-se, cada vez mais, de sua essência, mergulhando em um mundo irreal, de um modo de ser impessoal.

 

“Os outros” que são assim nomeados para dissimular o fato de que se é essencialmente um deles, são os que, na existência comum cotidiana, “estão-aí” primeira e mais frequentemente. O “quem” não é este, nem aquele, nem si-mesmo, nem alguns, nem a soma de todos. O “quem” é o neutro, é o “a-gente”. (M. Heidegger. L´Être ET le Temps, p. 159-citado por Beaini). 

Concluímos que, enquanto o homem vive desse modo, ele depende dos outros, do grupo, e, aos poucos, vai se igualando mais e mais a eles, até que chegará o momento, sem que perceba, que está sendo totalmente dominado. Repetirá frases feitas – até escapando-lhe o sentido do conteúdo -, vivendo em um mundo de banalidade e sem responsabilidades para consigo mesmo. Ora, “o outro” que o domina é um impessoal, sendo o próprio homem em sua existência inautêntica.

Indagamos, assim: São as auto imagens a única fonte de nossa insatisfação? Não existiriam alguns problemas reais que são, ao menos em parte, causadores do nosso descontentamento? É tentador atribuirmos nossas dificuldades às causas externas. Entretanto, se olharmos fundo no nosso ser, pode ser que veremos que somos infelizes porque estamos a deixar nossas auto imagens puxarem, conduzirem, nossas vidas. Compreendendo esse fenômeno, possivelmente, poderemos, verdadeiramente, tomar decisões em outras direções e resolvermos os nossos problemas espirituais, morais, físicos, cognitivos, emocionais e de alma: Caminhando sempre com fé, em direção ao finito infinito Religar!

São Paulo, 30.III.1983 – Escrito após conhecer Thaís Curi Beaini.

 

 

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Música: Pjotr Ilich Tchaikovsky (Rússia,1840-1893)

Vals de las flores da Suite Nº 1 Op. 71, Do Ballet "El Cascanueces".

Interpretada pela Orquesta Sinfónica de Yucatán

Regência: Mtro. Roberto Tello Martínez.

No interior da Paróquia de Santiago
 

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